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Dia Mundial da Prematuridade amplia a mensagem de futuros brilhantes

17/11/2025
Recém nascido na UTI

A cada 17 de novembro, o mundo se une para lembrar que milhares de bebês chegam antes da hora e precisam de cuidados especiais para seguir adiante. O Dia Mundial da Prematuridade é um convite global para enxergar a potência dos pequenos começos e a urgência de garantir que esses bebês tenham trajetórias mais seguras e saudáveis. Em 2025, a mobilização internacional ganha força com a campanha Garanta aos prematuros começos saudáveis para futuros brilhantes, que reforça a importância dos primeiros mil dias e do cuidado integral que começa ainda na gestação.

A campanha propõe um olhar mais sensível para mães, pais, famílias e profissionais que se dedicam, diariamente, a proteger vidas que começam frágeis, mas carregam enormes possibilidades. Começos saudáveis não são apenas uma mensagem de esperança. São uma convocação à sociedade para refletir sobre como construímos oportunidades reais para bebês que nascem antes do tempo. São também um lembrete de que cuidar é um gesto que atravessa fronteiras, políticas públicas, rotinas hospitalares e laços afetivos.

A neonatologista Dra. Lícia Moreira, presidente do Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade Brasileira de Pediatria, esclarece que um vai de uma idade gestacional de 22, 23 semanas até 36 semanas e 6 dias, e “diferentes tipos de prematuro com diferentes idades, diferentes pesos e demandas e desfechos”.

No Brasil, milhares de bebês chegam antes das 37 semanas e enfrentam riscos maiores de complicações respiratórias, neurológicas e infecciosas. Essa realidade reflete na importância dos primeiros 1000 dias, período que começa na concepção e segue até os dois anos de idade. É um intervalo silencioso e determinante, em que corpo e cérebro se desenvolvem em ritmo acelerado. Ali se formam conexões, vínculos, respostas emocionais, estrutura imunológica e marcos que acompanharão cada criança por toda a vida.

A campanha deste ano ganha ainda mais força no país com a Lei 15.198, que institui o Novembro Roxo, o Dia Nacional da Prematuridade e a Semana da Prematuridade. A legislação prevê ações voltadas à prevenção e ao cuidado, incentiva o método canguru, assegura a presença dos pais durante a internação e estabelece o acompanhamento obrigatório após a alta. São medidas que aproximam o país de uma agenda global que reconhece, na primeira infância, o início de tudo que sustenta um futuro possível.

A presença que transforma o cuidado dentro do hospital

O silêncio de uma UTI Neonatal nunca é realmente silêncio. Há o som ritmado dos monitores, o ar quente dos equipamentos, o sussurro de passos que não querem acordar ninguém. Entre cabos, incubadoras e luzes reguladas, começa uma história que não estava prevista. É ali que muitos bebês chegam antes da hora, trazendo consigo a urgência da vida e a delicadeza de existir tão cedo.

Quando um bebê nasce prematuro, chega ao mundo enquanto o corpo ainda está aprendendo tarefas básicas. Respirar de forma coordenada, manter a temperatura, organizar estímulos, sustentar funções vitais. A tecnologia é indispensável, mas ela não basta. A ciência já mostrou que o cuidado não se limita aos protocolos. Ele também se escreve no afeto.

Na incubadora, tudo é monitorado minuto a minuto. Ventilação, nutrição, temperatura, oxigênio. Ainda assim, nenhum aparelho substitui a presença dos pais. O toque que reconhece, a voz que acalma, o cheiro que orienta. O corpo do bebê responde com uma precisão silenciosa: o estresse diminui, o sistema nervoso se organiza, os batimentos se estabilizam. A mãe, ao oferecer o contato pele a pele, estimula a produção de leite e fortalece a amamentação, mesmo quando ela acontece por sonda. O pai participa dessa construção, aprendendo a acolher, sustentar e interpretar os sinais do filho. Essa aproximação é conhecimento, vínculo e cuidado.

Essa prática é conhecida como Método Canguru e é adotada em diversos países. Estudos mostram que ela favorece o ganho de peso, melhora o sono e apoia a amamentação exclusiva. Nos prematuros, os efeitos são ainda mais profundos, porque o afeto passa a exercer parte do papel que o útero desempenharia naturalmente.

A Dra. Lícia Moreira, explica que os avanços tecnológicos transformaram a realidade dos prematuros, especialmente na prevenção de infecções, na proteção do cérebro e na oferta de nutrição adequada desde os primeiros dias. Mas ela ressalta que nada disso acontece isoladamente. A presença da família faz diferença.

Lícia traduz esse entendimento com a clareza de quem observa a ciência na prática:

“O afeto é uma intervenção de saúde. A presença dos pais no hospital não é um detalhe, é parte do tratamento. O bebê prematuro reconhece o cheiro, o calor e a voz da mãe e do pai. Isso organiza o sistema nervoso, estabiliza funções vitais e cria um ambiente biológico mais favorável para o desenvolvimento”.

A medicina confirma esse olhar. O contato pele a pele, o som da voz familiar e o colo que sustenta reduzem estresse, regulam batimentos cardíacos, favorecem o ganho de peso e estimulam conexões neurológicas fundamentais. Os primeiros vínculos se tornam uma arquitetura invisível que sustenta o desenvolvimento. O que antes era visto como gesto simbólico hoje é reconhecido como terapêutico.

Mesmo quando o bebê ainda não realiza a pega ideal, o simples contato já estimula a produção de leite, acolhe, regula emoções e favorece processos cognitivos. O vínculo cria um território seguro em meio a um ambiente que, para o recém-nascido, é totalmente novo.

É nesse contexto que ganha sentido a campanha Garanta aos prematuros começos saudáveis para futuros brilhantes. A mensagem lembra que o início da vida precisa de tecnologia e de equipes experientes, mas também da presença contínua da família, de ambientes hospitalares que acolham, orientem e integrem os pais e de políticas públicas que assegurem esse direito.

A prematuridade traz incertezas, mas um ponto é consenso entre especialistas. Cada dia a mais dentro do útero é um dia a mais de maturidade e segurança. Por isso, prevenir a prematuridade significa fortalecer redes de atenção, garantir pré-natal adequado, qualificar equipes, apoiar gestantes e disseminar informação segura. É reconhecer que o cuidado começa muito antes do nascimento e que a presença da família não é acessória.

O cuidado intensivo e o acompanhamento após a alta

Depois da UTI, muitos bebês seguem para unidades intermediárias, como a Unidade Semi-Intensiva. Posteriormente, chegam à Ala Canguru, onde mães e bebês permanecem juntos e vivenciam uma rotina que combina prática clínica e relacionamento afetivo. Esse espaço materializa a política de cuidado centrado na família e coloca em prática o tema global da campanha deste ano.

Quando a alta chega, inicia-se um novo capítulo. O cuidado fora do hospital é tão importante quanto o cuidado recebido dentro dele. Para organizar essa etapa, as famílias seguem acompanhadas por equipes multiprofissionais.

As ações que compõem essa fase incluem:

  • acompanhamento de crescimento e desenvolvimento
  • consultas frequentes com equipes especializadas
  • fisioterapia e fonoaudiologia quando necessário
  • orientações para fortalecer o vínculo e a estimulação sensorial
  • suporte emocional às famílias

Esse conjunto de cuidados ajuda o bebê a alcançar passos importantes da infância e oferece às famílias segurança, informação e acolhimento durante o processo de adaptação. Ao olhar para esse percurso completo, percebe-se que a presença dos pais, desde a internação até a vida em casa, é uma força que atravessa a prematuridade e suaviza desafios.

Garanta aos prematuros começos saudáveis para futuros brilhantes

O tema da campanha de 2025 traz uma mensagem que começos saudáveis constroem futuros brilhantes. Essa reflexão ecoa nos corredores das maternidades, nos serviços de atenção primária, nas políticas públicas e nos lares de famílias que enfrentam a prematuridade com coragem diária.

Ela também nos lembra que prevenir é tão importante quanto tratar. Significa garantir acesso ao pré-natal, investir em profissionais preparados, fortalecer programas de saúde e ampliar a consciência social sobre a importância da gestação saudável. Cada ação preventiva é uma chance de transformar histórias que começam cedo demais.

Essa visão dialoga com a realidade brasileira. Mulheres ainda enfrentam desigualdades que impactam diretamente o risco de parto prematuro. A campanha evidencia que não basta cuidar do bebê. É preciso cuidar da mãe, da família, do território e das condições que sustentam esse início de vida.

O Novembro Roxo reafirma esse compromisso. Informar é prevenir. Acolher é fortalecer. Cuidar é transformar o início da vida. Os primeiros mil dias representam uma oportunidade concreta de proteger, orientar e favorecer trajetórias mais saudáveis. São o ponto de partida de histórias que se constroem ao longo da infância. São o alicerce de futuros realmente brilhantes.

Essa é também a mensagem do Programa 1000 Dias da Fundação Abrinq, que reforça a importância de garantir saúde, cuidado e proteção desde o início da vida, ampliando a discussão sobre desenvolvimento infantil e primeiras trajetórias.

Para continuar essa reflexão, leia também:

Novembro Roxo e a urgência de falar sobre prematuridade: sinais, causas e formas de prevenção

Prematuridade: A desigualdade que nasce cedo

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