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Amamentar e trabalhar: como equilibrar esse desafio que muitas mães enfrentam?

18/08/2025
Mulher amamentando criança

Quando Priscila Oliveira, 39 anos, mãe do pequeno Daniel, de 5 meses, retornou da licença-maternidade, encontrou um cenário acolhedor no ambiente de trabalho: uma sala de apoio à amamentação já estava reservada. "Diariamente faço pausas para extração e armazenamento do leite para o Daniel. A equipe foi muito compreensiva e acolhedora", relata Priscila.

Mas a realidade de Priscila ainda é exceção no Brasil. Todos os anos, milhares de mulheres enfrentam o mesmo dilema: como conciliar o retorno ao trabalho com o direito e o desejo de continuar amamentando?

A legislação brasileira prevê 120 dias de licença-maternidade, podendo ser estendida para 180 dias em empresas que aderem ao Programa Empresa Cidadã. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) também garante duas pausas de 30 minutos por dia para amamentação até o bebê completar seis meses. Além disso, há recomendação legal para que empresas com 30 ou mais mulheres com mais de 16 anos mantenham creches ou convênios com instituições infantis.

Na prática, porém, muitas pessoas que amamentam esbarram em obstáculos estruturais e culturais. Estudos mostram que o aleitamento materno exclusivo, como recomenda a Organização Mundial da Saúde, caem significativamente após o retorno da mãe ao trabalho.

Entre os principais fatores estão a ausência de espaços adequados para extração e armazenamento do leite, a rigidez na jornada e a falta de políticas institucionais que reconheçam e acolham a parentalidade. Quando a empresa escolhe apoiar de verdade, os resultados aparecem. Iniciativas como home office parcial, jornadas mais flexíveis e salas específicas para extração do leite materno transformam a rotina de quem amamenta e o ambiente de trabalho como um todo.

"O incentivo à amamentação no local de trabalho é uma das estratégias para promover um ambiente mais acolhedor e seguro. Dar acolhimento e segurança são medidas que, a longo prazo, trazem benefícios tanto para a pessoa que amamenta, aumentando seu vínculo com o local de trabalho, quanto para a empresa", afirma Cintia Otoni, líder das iniciativas de Saúde da Fundação Abrinq.

Proteção à amamentação é investimento

Quando a empresa não é tão flexível, a conciliação entre amamentação e trabalho se torna um desafio ainda maior. Nessas situações, é essencial que as mães busquem alternativas para manter o aleitamento. Afinal, a proteção à amamentação não é apenas um ato de cuidado é um investimento que gera benefícios para a mãe, para o bebê e para toda a sociedade.

Cintia orienta que seja feito pela mãe um planejamento de rotina, para a extração e armazenamento do leite, garantindo que mantenha o estoque de leite para o bebê no período de ausência e com pelo menos 15 dias de antecedência de retorno ao trabalho comece a armazenar o leite. "Uma dica é estimular a mama extraindo o leite, porque quanto mais leite extrair, mais leite a mama vai produzir. Isso pode ser feito no momento que o bebê estiver mamando, colocando a extratora de leite na outra mama, ou realizar a extração após a mamada da bebê", explica.

Na visão de Priscila, o ideal seria que a licença se estendesse até o primeiro ano de vida do bebê, período em que o leite materno ainda é o principal alimento e traz inúmeros benefícios. "Reconheço como um privilégio ter os seis meses de licença, que muitas mulheres ainda não têm. Mas é um momento delicado, com muitas mudanças para o bebê, que está apenas começando a introdução alimentar. Voltar ao trabalho nesse contexto é um desafio enorme", reflete.

A amamentação no retorno ao trabalho não é um favor: é um direito. Um direito que fortalece quem amamenta, nutre o bebê e constrói uma sociedade mais saudável e justa. Ao proteger esse momento, garantimos um futuro com mais equidade, saúde e oportunidades para todos. Mais do que pausas durante a jornada ou salas específicas, é preciso promover uma mudança de cultura. Empresas e políticas públicas precisam enxergar a infância como investimento, e não como custo.

O que a Fundação Abrinq tem feito?

A Fundação Abrinq é uma das organizações que têm se posicionado ativamente em defesa da amamentação e da primeira infância. Por meio do Programa 1000 Dias, mães recebem orientação e acompanhamento desde a gestação até os 2 primeiros anos de vida do bebê, período decisivo para o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo da criança. "O Programa 1000 Dias me ajudou muito a entender a importância e a necessidade do leite materno, tanto para a saúde do neném quanto para seu bom desenvolvimento", conta Laysa Miranda, 18 anos, mãe do Anthony Henrique, 4 meses, que vive em Curvelo, Minas Gerais, beneficiada pelo programa.

Mas garantir esse início de vida com proteção e cuidado exige um esforço coletivo. Políticas públicas que estimulem a adesão ao Empresa Cidadã, investimentos em bancos de leite e campanhas de informação são essenciais. Ao mesmo tempo, é urgente promover uma cultura organizacional que normalize e valorize a amamentação.

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