Brincar é um direito de toda criança. É por meio das brincadeiras que elas aprendem sobre o mundo, desenvolvem habilidades, expressam sentimentos e constroem vínculos. Mas, para muitas, esse momento ainda enfrenta barreiras. Crianças com deficiência visual, física ou com questões neurodivergentes, como autismo e TDAH, muitas vezes são deixadas de fora das atividades por falta de adaptação ou conhecimento sobre como incluí-las.
Garantir que todas as crianças possam brincar é uma forma de promover a inclusão, o respeito às diferenças e o sentimento de pertencimento. E o melhor é que, com pequenas mudanças, é possível transformar qualquer brincadeira em uma experiência mais acessível e divertida para todos.
A seguir, a Fundação Abrinq lista quatro ideias de brincadeiras inclusivas e repletas de inspirações culturais que podem ser realizadas em casa, na escola ou em espaços comunitários:
Amarelinha Africana
Inspirada em tradições de Moçambique, a Amarelinha Africana transforma o que conhecemos do jogo clássico. Em vez de pedrinhas e disputa, o foco está na cooperação, no ritmo e na música. As crianças pulam em sequência de acordo com o compasso da canção, seguindo o traçado de uma grande grade no chão.
A brincadeira favorece o equilíbrio, a coordenação motora e o senso de ritmo. E também pode ser adaptada:
• Para crianças com deficiência física, a brincadeira pode ser transformada em uma coreografia rítmica coletiva, onde cada criança realiza gestos com braços, tronco ou mãos, acompanhando a batida da música;
• Para crianças com deficiência visual, o percurso pode ser demarcado com fitas de diferentes texturas;
• Para crianças neurodivergentes, manter o ritmo da música em velocidade constante ajuda na previsibilidade e no foco.
Nós Quatro
Presente nas escolas e comunidades brasileiras há gerações, Nós Quatro é uma das muitas brincadeiras de mãos que atravessam o tempo e unem pessoas. Em quartetos, as crianças se posicionam em forma de quadrado e batem palmas umas nas outras, seguindo o ritmo de uma canção. A sequência de gestos exige concentração, sincronia e muita risada.
Para torná-la acessível:
• Crianças com deficiência auditiva podem acompanhar o ritmo por meio de sinais visuais ou vibrações (como batidas no chão ou em uma mesa);
• Crianças com mobilidade reduzida podem participar apenas com o movimento das mãos ou com toques no ritmo do grupo;
• Crianças neurodivergentes podem iniciar com sequências curtas, ampliando gradualmente a complexidade conforme o conforto e o interesse.
Si Mama Kaa
Cantada em suaíli, língua originária de países como Tanzânia, Quênia e Moçambique, Si Mama Kaa é uma brincadeira africana repleta de movimento e musicalidade. Cada palavra representa uma ação: “Si Mama” significa ficar em pé, “Kaa” quer dizer sentar, “Ruka” é pular, “Tembea” é andar e “Kimbia” significa correr.
O desafio é seguir os comandos conforme o ritmo da música, o que torna o jogo divertido e educativo. A brincadeira ensina sobre cultura, ancestralidade e diversidade, além de estimular o raciocínio rápido e a coordenação.
Para inclusão:
• Crianças com deficiência física podem adaptar os gestos, levantando os braços ou mexendo o tronco em vez de se levantar;
• Crianças com deficiência auditiva podem acompanhar com o apoio de sinais visuais, como placas com os comandos escritos ou ilustrados;
• Crianças neurodivergentes podem se beneficiar de repetições rítmicas e previsíveis, o que favorece a atenção e o engajamento.
Morto ou Vivo
Clássico das rodas de infância, Morto ou Vivo atravessa gerações e continua encantando as novas. O “mestre” comanda a brincadeira com voz firme: quando diz “vivo”, todos ficam em pé; quando diz “morto”, todos agacham. A agilidade e a concentração são postas à prova, e quem se confunde sai da rodada.
Apesar de simples, a atividade ajuda a desenvolver equilíbrio, reflexo e controle motor, além de estimular o respeito às regras e a convivência em grupo.
Versões inclusivas também podem ser realizadas:
• Crianças com deficiência motora podem levantar e abaixar os braços ou inclinar o corpo, em vez de se agachar;
• Crianças com deficiência auditiva podem seguir sinais visuais feitos pelo líder, como levantar uma placa verde para “vivo” e uma vermelha para “morto”.