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Prato vazio, infância esquecida: a fome que o Brasil insiste em não ver

20/08/2025
Criança com prato vazio segurando uma colher

Enquanto muitos de nós decidimos o que colocar no prato, milhares de crianças brasileiras seguem dormindo e acordando com fome e o mais alarmante: sem que ninguém perceba.

A cena se repete nas periferias urbanas, nas aldeias indígenas, nos quilombos, nos abrigos improvisados das crianças refugiadas e nos sinais de trânsito das grandes cidades. A fome infantil no Brasil está crescendo e ela aparece no olhar apagado, no corpo frágil, na fala arrastada. Mas ainda assim, para muitos, essas infâncias continuam invisíveis.

A invisibilidade que mata

Em 2023, o Brasil saiu novamente do Mapa da Fome da ONU, uma conquista importante após ter retornado à lista em 2021. No entanto, estar fora do Mapa da Fome não significa que o problema foi resolvido. O próprio relatório da FAO ressalta que milhões ainda vivem em insegurança alimentar moderada ou grave e que as desigualdades regionais e sociais seguem profundas.

A exclusão continua atingindo em cheio as infâncias mais vulneráveis, que muitas vezes não são alcançadas por nenhuma política pública. São crianças que não entram nas estatísticas, nem nas filas, nem nos planos de ação porque estão fora da escola, em situação de rua, sem registro civil. Sem CPF, sem prontuário, sem matrícula. Sem acesso, sem voz, sem pão.

Segundo o relatório The State of Food Security and Nutrition in the World 2024, da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), estima-se que no Brasil, 21 milhões convivem com a insegurança alimentar grave, grande parte são crianças e adolescentes. A ONU alerta que a desnutrição infantil continua sendo um dos maiores desafios, com impactos devastadores no desenvolvimento físico e cognitivo.

Mesmo diante desse cenário, há caminhos possíveis e concretos. Iniciativas como programas de hortas, de incentivo o aleitamento materno, Cardápio Escolar Sustentável, Fome de Zero, Saúde de Ferro e programas intersetoriais de combate à desnutrição infantil têm mostrado resultados importantes em diversas regiões.

Para o pediatra e nutrólogo Prof. Dr. Mauro Fisberg, apesar do Brasil ter saído do Mapa da Fome, ainda há um número muito grande de crianças sem garantia de uma refeição por dia, “Essa insegurança alimentar compromete o crescimento, a imunidade e o desenvolvimento cognitivo, impactando não só a vida dessas crianças, mas o futuro da sociedade como um todo.” comenta.

A desnutrição nos primeiros anos de vida afeta diretamente o crescimento físico, o sistema imunológico, a cognição e o desempenho escolar. Mas os danos não param aí. Ela também deixa marcas emocionais: ansiedade, dificuldades de socialização e baixa autoestima. Uma infância marcada pela fome é uma infância impedida de brincar, aprender e crescer.

Fisberg alerta que a fome é uma ameaça imediata à vida das crianças, e muitas vezes, elas passam dias sem uma refeição completa, o que compromete seu crescimento, saúde e desenvolvimento mental. “Garantir comida suficiente e nutritiva para todas as crianças deve ser prioridade máxima, pois só assim poderemos quebrar o ciclo da pobreza e construir um futuro melhor”, comenta o médico.

Fundação Abrinq reforça compromisso no combate à fome e à desnutrição infantil

O Brasil conta com iniciativas importantes, como cozinhas solidárias, hortas comunitárias e programas intersetoriais de combate à desnutrição infantil, que têm mostrado resultados promissores. A Fundação Abrinq, por exemplo, apoia ações que garantem direitos básicos e promovem segurança alimentar, saúde e educação, pilares essenciais para romper o ciclo da pobreza.

A fome infantil é uma violação de direitos humanos. É um retrato cruel das desigualdades do país. Invisibilizar essa realidade é permitir que ela se perpetue e com ela, a exclusão, o adoecimento, o fracasso escolar, a violência. Porque nenhuma criança deveria crescer em silêncio com o estômago vazio. A fome tem pressa. E a infância não espera.

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