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Organização Manaíra - “A verdadeira mudança começa na cabeça e no coração de cada um”

Jue, 17/06/2021 - 14:51
Organização Manaíra - “A verdadeira mudança começa na cabeça e no coração de cada um”

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a saúde mental é definida como um bem-estar no qual o indivíduo consegue ficar bem consigo mesmo e com os outros, de modo a responder positivamente as adversidades que surgem na vida. E é fundamental promovê-la desde a infância, período em que as habilidades sociais e emocionais estão em desenvolvimento.

O Projeto Prevenção em Saúde Mental para Crianças e Adolescentes em Grupos de Inclusão, realizado pela Organização Manaíra, atende crianças e adolescentes, de 6 a 17 anos, em situação de vulnerabilidade social. A iniciativa promove a redução do agravamento dos problemas de saúde mental, por meio de atendimentos em grupo e individual de uma equipe técnica, formada por psicólogos, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e assistente social, e de atividades socioeducativas como artes, yoga, dança, meio ambiente e brincadeiras, que possibilitem aos beneficiados, a promoção para o seu desenvolvimento mental saudável.

A Manaíra foi uma das vencedoras do Prêmio Criança 2020, realizado pela Fundação Abrinq. Nesta última edição, a premiação reconheceu três iniciativas voltadas à saúde mental de crianças e adolescentes realizadas por organizações sociais. 

Serviço de referência em saúde mental 

A organização está localizada na região Nordeste do Brasil, na periferia do Grande Recife, em Ponte dos Carvalhos, distrito do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, com uma população de quase 180 mil habitantes, de acordo com o Censo 2010 do IBGE.  A localidade é marcada pelo desenvolvimento industrial que a implantação do Porto de Suape, situado nos municípios de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, trouxe à comunidade. 

De acordo com a psicóloga e uma das fundadoras da organização, a região não possui serviços públicos de atendimento especializado em prevenção em saúde mental. “A Manaíra atende aos encaminhamentos tanto da prefeitura, quanto do governo do estado, pois somos referência neste tipo de serviço. Porém, não possui vínculo com os governos e não recebe nenhuma verba para se manter”.

Outra situação que preocupa a especialista é a ausência de médico neurologista que atenda a comunidade. “Os pais têm muita dificuldade em conseguir atendimento médico nesta especialidade até para a obtenção de um laudo para atendimento às crianças e adolescentes com algum tipo de transtorno. Nós temos um grupo de 60 meninos e meninas, onde apenas oito possuem laudo. Ele é necessário para seguirmos com as atividades indicadas para cada diagnóstico apresentado”. 

Confira o bate-papo com Maria de Fátima, fundadora da Organização Manaíra:

Atualmente, quantas crianças e adolescentes são atendidos pelo projeto e quais as dificuldades encontradas?

Hoje, atendemos 297 crianças e adolescentes. Porém, neste momento de pandemia, todo o atendimento acontece de forma online, pois as atividades presenciais foram suspensas. 

A Manaíra está localizada em uma comunidade com muitas famílias em situação de vulnerabilidade social. Uma das dificuldades encontradas consiste no fato das crianças e dos adolescentes não terem uma privacidade no atendimento. Uma família possui apenas um aparelho de celular para todos os integrantes. Até para agendar um horário é difícil.

Como funciona o atendimento?

A entrada da criança e do adolescente no projeto acontece por meio de um encaminhamento da rede socioassistencial local e por demanda espontânea.

Ele [o adolescente e/ou criança] é recebido pela equipe social (psicólogo e assistente social) que realiza uma conversa individual, para iniciar a elaboração do seu plano terapêutico. A família também é acolhida neste primeiro momento, através de uma escuta qualificada.

A partir dessa acolhida inicial, a criança e/ou adolescente dá início a sua participação nas atividades pedagógicas que traz uma abordagem sistêmica com o olhar clínico, pedagógico e social. As brincadeiras estruturadas são também uma maneira lúdica de trabalhar neles a autonomia, a independência, interação e a socialização. Há também as atividades de relaxamento, a partir de práticas de meditação, no intuito de promover o autoconhecimento do corpo e da mente. Nas rodas de diálogos, falam de suas angústias, dificuldades, dores e alegrias, com a intervenção do psicólogo.

Quanto às famílias, essas são atendidas em grupos terapêuticos e acompanhadas em visitas domiciliares feitas pela equipe social do projeto.

O que o Prêmio Criança trouxe de benefícios para o projeto?

O Manaíra passou a ser reconhecido e os pais ficaram muito felizes em ver que os filhos deles estão sendo tratados em um local seguro e responsável. Este projeto cresceu muito e continua crescendo. Recebemos uma demanda grande do poder público e estávamos um pouco perdidos sobre como administrar este crescimento. Então, com o valor recebido por meio do prêmio, contratamos uma consultoria para nos ajudar em como continuarmos de forma profissional este trabalho. 

O que representa estar à frente do projeto desde a sua criação há 23 anos? 

Eu vim dessa comunidade. Quando criamos o Manaíra, refletimos sobre o seguinte: não podemos querer uma mudança de cima para baixo. A mudança vem do próprio indivíduo, vem de baixo. Se ele quer mudar, ele consegue. Não adianta esperar algo grande, tem que começar com algo pequeno. É a boa vontade que vai fazendo esta mudança. Não é só reclamar que o governo não faz, que a prefeitura não faz. Nós, enquanto pequenos, podemos fazer a nossa parte. É através de pequenas ações que conseguimos transformar a realidade em que vivemos. A verdadeira mudança começa na cabeça e no coração de cada um.

Prêmio Criança

Criado em 1989, o Prêmio Criança foi um dos primeiros programas desenvolvidos pela Fundação Abrinq, com o objetivo de reconhecer e dar voz a projetos de organizações da sociedade civil que contribuam para assegurar os direitos das crianças e dos adolescentes.

“As iniciativas reconhecidas pelo Prêmio Criança 2020 contribuem positivamente para que, projetos voltados à saúde mental na infância e adolescência, um tema tão importante na atualidade, conquistem cada vez mais espaços e ganhem o protagonismo que merecem”, afirma Victor Graça, gerente executivo da Fundação Abrinq.

 

Saiba mais sobre o Prêmio Criança e o Projeto Prevenção em Saúde Mental para Crianças e Adolescentes em Grupos de Inclusão, da organização Manaíra – Clique aqui

Fique de olho no site e acompanhe a série de reportagens sobre cada iniciativa vencedora.

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