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Entenda quais são os impactos da COVID-19 no aleitamento materno

Mar, 04/08/2020 - 09:52
Entenda quais são os impactos da COVID-19 no aleitamento materno

O aleitamento materno em geral causa muitas dúvidas e até anseios para muitas mulheres. Em meio à uma pandemia é natural que essas dúvidas se intensifiquem, deixando muitas mães preocupadas e com receio de prosseguirem com a amamentação. 

Para entender quais são os impactos da COVID-19 no aleitamento materno e amenizar algumas aflições, a Fundação Abrinq conversou com a Maria Inês Rosselli Puccia, doutora em Ciências da Saúde pela Universidade de São Paulo (USP), enfermeira, docente, pesquisadora e consultora em saúde materno-infantil, bem como autora do blog Preparo Materno

A mulher que está com suspeita ou contraiu o Coronavírus deve continuar amamentando seu filho? A prática traz algum risco para o bebê? 

As recomendações oficiais mencionam que nada é tão ou mais importante do que o aleitamento materno para proteger o bebê. Então mesmo que a mulher esteja com suspeita ou confirmação da COVID-19 a amamentação não é contraindicada. 

Não há evidências, até o presente momento, da presença do vírus no leite materno, líquido amniótico ou de transmissão pela placenta. A transmissão se dá pelas vias respiratórias, então nesse sentido não se contraindica o aleitamento materno para a mulher que esteja com suspeita ou confirmada com a doença. Tudo vai depender do estado geral dela. Se ela estiver bem, se sentindo disposta ou não tenha nenhuma complicação da doença, ela pode e deve amamentar seu bebê. 

Quais são os cuidados necessários para a mulher que esteja com suspeita ou já tenha sido confirmada com a doença prosseguir com o aleitamento materno? 

O primeiro deles é o uso das máscaras. Se ela estiver em ambiente hospitalar, ela vai usar uma máscara cirúrgica, por exemplo, se ainda estiver na maternidade. Na própria casa ela pode usar uma máscara de pano, com duas camadas de tecido, sempre limpa, higienizada, desinfetada e passada a ferro, a cada amamentação. Ela deve sempre trocar a máscara. Cada vez que ela amamentar precisará lavar e fazer todos os procedimentos. 

Higienizar as mãos. Lavar as mãos com água e sabão bem lavadas, precisa ser uma lavagem completa e cuidadosa entre os dedos e as unhas. E o uso do álcool em gel com 70% de INPM, antes e depois de manusear o bebê. Tendo logicamente a precaução de esperar secar o álcool residual para não entrar em contato com o bebê com a mão ainda úmida. 

É necessário seguir toda a rotina em casa de isolamento social, isso é essencial desde a gravidez até a amamentação do bebê. A mulher precisa seguir esse cuidado de manter-se isolada. 

Outra medida importantíssima é a restrição de visitas. Manter o mínimo de pessoas convivendo com ela e circulando dentro de casa é essencial neste momento. 

Caso ela não se sinta confortável ou esteja debilitada, qual é a recomendação para que o aleitamento materno continue sendo realizado? 

Nós aconselhamos que ela opte pela amamentação, pois nada substitui o leite materno e é o melhor para o bebê, mas é uma escolha.

Se ela não se sentir segura em amamentar ou estiver debilitada, o que se recomenda é que faça a retirada do leite. O Ministério da Saúde tem uma cartilha que explica todo o passo a passo de como fazer a retirada do leite. A mulher vai tirá-lo com uma bombinha ou extração manual, conforme for indicado para o caso dela, orientada por um profissional de saúde, e vai oferecer o leite ordenhado por meio de um copinho. Alguém da família que não esteja contaminado vai ser o responsável por dar ou oferecer esse leite ao bebê. 

Mas no geral nós tentamos aconselhar o máximo possível para que ela, se sentindo bem, continue amamentando seguindo os cuidados de uso da máscara e higiene das mãos.

É importante deixar claro que se ela estiver debilitada, é necessário avaliar muito bem os sintomas e, na medida em que eles vão se agravando, procurar um serviço de saúde. Talvez isso implique na separação da mãe e do bebê, por exemplo, se ela precisar ficar internada e ele não. Isso pode fazer com que a mulher postergue a procura com receio de deixar o seu bebê e assim comprometer o seu estado de saúde. Então na medida em que ela começar a sentir qualquer alteração de sintoma, é muito importante procurar ajuda médica, tomar os devidos cuidados e se for necessário ficar hospitalizada. É importante que ela se tranquilize, estabeleça a rede de apoio para cuidar do bebê, faça a ordenha do leite materno para alguém oferecê-lo com o copinho e depois do período de recuperação será retomada a relactação (voltar a produzir leite e amamentar). 

Feito isso, ela pode retomar o aleitamento materno em qual momento? 

O período de retomada pode iniciar assim que ela começar a se sentir recuperada, se sentir bem. Os estados físico e mental é que vão determinar. Então após sua recuperação ela pode retomar o aleitamento materno com as precauções que nós já antecipamos. 

Caso seja o contrário, o bebê esteja com suspeita ou tenha contraído a doença, o aleitamento materno também pode continuar? As recomendações são as mesmas? 

Pode continuar, porque é pelo leite materno que o bebê vai receber todos os fatores de proteção, os anticorpos de proteção. Nenhum outro medicamento vai substitui-lo. O importante é a mãe acompanhar, um elemento essencial para observar no bebê é a alteração de comportamento, às vezes o bebê fica muito choroso ou muito sonolento e apresenta febre. Ela vai monitorar isso e confiar no aleitamento materno como uma forma de transmitir o seu vínculo, proteção, amor e cuidado para o bebê. Lógico, se a mãe estiver contaminada, recomendamos que ela evite ficar o tempo todo com o filho no colo. Ela vai restringir um pouco o contato físico nesse período. No entanto, esse contato físico deve ser substituído por alguém da rede de apoio, o companheiro, a mãe ou alguém que esteja cuidando dela e que não esteja contaminado, para que esse bebê se sinta seguro também, porque é natural que ele queira colo. 

No geral é de suma importância que a mulher tenha uma rede de apoio durante a amamentação. Dado o contexto da pandemia, existe alguma necessidade maior ou específica de participação dessa rede? 

Independentemente da pandemia pela COVID-19, durante o período do pós-parto, principalmente as primeiras semanas em casa, é quando as mulheres se sentem muito inseguras, têm sua autoconfiança abalada, é natural isso acontecer pelas transformações do parto, às vezes o parto não foi como ela desejava, então o momento do estabelecimento da amamentação é o período que as mulheres mais sentem necessidade de atenção, de esclarecimentos, e é quando elas menos encontram suporte. Por isso a rede de apoio é fundamental. 

Durante todo o período de preparação da mulher para a amamentação, a gente discute muito a importância de buscar uma rede de apoio no pós-parto. Seja uma rede de apoio de fortalecimento familiar, do próprio companheiro, ou as mulheres de classe média-alta que têm condições de pagar uma consultoria, ter um profissional para ajudar caso tenham dificuldades. Isso tem um impacto muito significativo. 

É essencial que a mulher de antemão se preocupe, se prepare e tenha um plano estabelecido para poder contar com essa rede. Hoje nós temos muitas possibilidades virtuais. A mulher pode, durante a gravidez, fazer um curso online sobre aleitamento ou participar de grupos com outras mulheres. Nas redes sociais há vários grupos de puérperas e mulheres que estão amamentando. Contar com esses recursos é essencial para reduzir a ansiedade e o sentimento de desamparo e solidão que ela possa ter nesse período, que tende a ser mais complicado agora com a pandemia.

Reiterando que o recomendado é que ela não receba visitas nesse período para se proteger de uma forma geral. 

Existe mais algum cuidado que a mulher e a família precisam ter relacionado à pandemia? 

O vírus já foi identificado nas fezes, em um tempo que ultrapassa os 14 dias da infecção. Nós consideramos, mesmo que o bebê seja assintomático (não apresenta sintomas), que já tenha sido colonizado também (tenha tido contato com o vírus, mas não apresenta sintomas), porque o contato com a mãe é muito próximo, então entende-se que ela passará alguns anticorpos para o bebê. Então não se afasta a possiblidade do vírus estar nas fezes do bebê. 

Nas trocas de fraldas, toda mulher que foi confirmada ou suspeita precisa ter um cuidado muito específico. Usar luvas, descartar a fralda de maneira segura, bem fechada, evitar espalhar as fezes com um lencinho umedecido para não espalhar no ambiente e fazer a desinfecção com álcool 70% da bancada onde o bebê foi trocado. É uma precaução muito importante. 

Para finalizar, qual conselho você dá para a mãe que deseja amamentar em meio à pandemia?

Eu gostaria de tranquilizá-la para confiar no seu corpo e na sua capacidade de amamentar, sabendo que nesse momento nada é mais importante para nutrir o seu filho, tanto do ponto de vista da alimentação quanto de proteção contra as infecções. Ou seja, o próprio aleitamento funciona como um fator de proteção maior para o bebê em meio à pandemia. 

Confira algumas dicas para ter uma boa experiência com o aleitamento materno. Clique aqui