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Leitura e infância: o desafio de formar novos leitores no Brasil

24/09/2025
Leitura e infância: o desafio de formar novos leitores no Brasil

A leitura é uma das principais portas para o conhecimento, a autonomia e o desenvolvimento humano. No entanto, os dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 2024, realizada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o IPEC, revelam um cenário preocupante: apenas 47% da população brasileira com 5 anos ou mais pode ser considerada leitora, o menor índice já registrado desde 2007.

O dado ganha ainda mais relevância ao olhar para as crianças e adolescentes, etapa da vida em que o contato com os livros é fundamental para a alfabetização, o aprendizado escolar e a formação de cidadãos críticos. Ao mesmo tempo, o levantamento traz pistas importantes sobre onde estão as principais barreiras e como a família, a escola e organizações da sociedade civil podem atuar para mudar esse quadro.

Neste contexto, a Fundação Abrinq atua como uma das principais vozes em defesa dos direitos da infância e da adolescência no Brasil, promovendo ações e programas que ampliam o acesso à leitura, fortalecem a alfabetização e transformam realidades.

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O retrato da leitura entre crianças e adolescentes

A pesquisa mostra que, apesar da queda no índice geral de leitura, as crianças continuam sendo o grupo etário que mais lê no Brasil. Entre 5 e 10 anos, a média é de 7,27 livros por ano. Na faixa dos 11 a 13 anos, o número é de 7,56 livros, enquanto os adolescentes de 14 a 17 anos leem, em média, 6,20 obras anuais.

Esses números, embora relativamente altos considerando as diferentes realidades presentes no país, revelam uma tendência preocupante: conforme avançam na idade, os adolescentes e adultos leem cada vez menos por prazer. Aos 5 ou 6 anos, quando a alfabetização está em processo, a leitura ainda é fortemente estimulada pela família e pela escola. No entanto, ao chegar ao Ensino Médio, 45% dos estudantes afirmam não ler literatura nem mesmo quando indicada pelos professores.

Outro aspecto apontado é a desigualdade no acesso. Enquanto estudantes de famílias com maior renda e escolaridade leem mais, crianças em situação de vulnerabilidade enfrentam obstáculos como falta de bibliotecas, ausência de livros em casa e dificuldade de acesso a materiais digitais. Apenas 30% dos estudantes brasileiros afirmam encontrar todos os livros indicados pelos professores nas bibliotecas escolares e universitárias, mostrando a carência de infraestrutura em grande parte do país.

O papel da família e da escola

A pesquisa indica que a família é determinante na formação de leitores. Entre as crianças de 5 a 10 anos, 61% afirmam que o gosto pela leitura foi estimulado pela mãe ou responsável do sexo feminino. Entre 11 e 13 anos, esse índice é de 54%. Isso mostra que, embora a escola desempenhe um papel importante, o exemplo em casa é decisivo para criar o hábito de ler.

Ainda assim, os dados indicam que a leitura está cada vez mais competindo com outras atividades de lazer, sobretudo entre adolescentes, como uso de redes sociais, games e consumo de vídeos.

O desafio, portanto, é tornar a leitura mais atrativa, acessível e conectada à realidade das novas gerações.

Barreiras para o hábito da leitura

Entre os que não leram nos últimos três meses, as principais justificativas foram:

  • Falta de tempo (33%);
  • Não gostar de ler (32%);
  • Não ter paciência (13%);
  • Além de dificuldades de acesso a bibliotecas e ao preço dos livros.

Essas barreiras afetam diretamente crianças e adolescentes em famílias com menor poder aquisitivo, em que o livro muitas vezes não está presente no dia a dia. Além disso, em muitas regiões do país, o acesso às bibliotecas escolares ou comunitárias é limitado, o que restringe ainda mais as oportunidades de contato com a leitura.

Esses fatores sinalizam a necessidade de políticas públicas e de iniciativas da sociedade civil que garantam a democratização do acesso ao livro e à leitura.

Fundação Abrinq: transformando o futuro por meio da leitura

Diante desse cenário, a Fundação Abrinq tem trabalhado de forma estratégica para garantir que crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade tenham acesso à educação de qualidade e à leitura como direito fundamental. Suas iniciativas envolvem desde o apoio direto a organizações sociais até ações de advocacy para influenciar políticas públicas.

Programa Nossas Crianças

O Programa Nossas Crianças seleciona, via edital, organizações da sociedade civil que atuam com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Além do financiamento e assessoria técnica, muitas dessas organizações mantêm bibliotecas comunitárias, rodas de leitura e atividades de contação de histórias, que ajudam a despertar o interesse pelo livro desde cedo.

Projeto Brincar

Reconhecendo a importância do brincar e da imaginação para o desenvolvimento integral, o Projeto Brincar promove formações para educadores e cria ambientes lúdicos que integram brinquedos e livros. Com isso, a leitura é apresentada como parte natural do universo infantil, estimulando tanto a alfabetização quanto a criatividade.

Incentivo à leitura em creches, escolas e coletivos periféricos

Por meio de diferentes iniciativas, como o Projeto Alfabetiza, o Programa Creche para Todas as Crianças e o Projeto Coletivos Periféricos, a Fundação Abrinq distribui materiais pedagógicos e literários a creches, pré-escolas escolas parceiras e coletivos periféricos conveniados à organização. Essa ação fortalece o vínculo das crianças com os livros em um momento importante: os primeiros anos de vida, quando o contato com histórias, imagens e palavras pode impactar toda a trajetória escolar e a vida da criança ou do adolescente.

Defesa de políticas públicas

Além do trabalho direto em comunidades, a Fundação Abrinq também atua em Brasília, acompanhando projetos de lei e políticas públicas que impactam a infância e a adolescência. 

A importância de investir na alfabetização

A alfabetização plena até os 8 anos de idade é muito importante para o desempenho escolar futuro. Crianças que aprendem a ler e escrever com fluência têm mais chances de concluir o Ensino Médio e ingressar no Ensino Superior.

No Brasil, no entanto, os desafios ainda são grandes. Esse problema foi agravado pela pandemia de Covid-19, que ampliou as desigualdades no acesso à educação.

Nesse contexto, iniciativas como as da Fundação Abrinq não apenas ajudam a garantir materiais e atividades de leitura, mas também colocam educadores e famílias em posição de protagonismo nesse processo.

Leitura e futuro: por que isso importa?

Estimular a leitura desde a infância não é apenas uma questão educacional, mas também social e econômica. Crianças leitoras têm mais chances de desenvolver pensamento crítico, empatia e habilidades cognitivas que serão fundamentais ao longo da vida.

Além disso, o hábito da leitura amplia horizontes: melhora o vocabulário, contribui para o desempenho em todas as disciplinas escolares e cria condições para que jovens possam sonhar com futuros diferentes, quebrando ciclos de pobreza.

No Brasil, onde quase metade da população não lê, o incentivo à leitura entre crianças e adolescentes é uma necessidade urgente para construir uma sociedade mais justa e desenvolvida.
 

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