
A infância e a adolescência no Brasil seguem marcadas por desafios estruturais, como pobreza, desnutrição, trabalho infantil e dificuldades no acesso à Educação. A edição de 2025 do Cenário da Infância e Adolescência, lançada pela Fundação Abrinq, traz dados atualizados que evidenciam a urgência de medidas efetivas para garantir os direitos das crianças e dos adolescentes no país.
Clique aqui para acessar a publicação
Para Victor Graça, superintendente da Fundação Abrinq, o levantamento é importante para embasar políticas públicas e mobilizar diferentes setores da sociedade. “Os dados demonstram que ainda há muito a ser feito para reduzir desigualdades e assegurar condições dignas para a infância e a adolescência. É imprescindível um compromisso coletivo para enfrentar esses desafios”, destaca.
Pobreza e desigualdade afetam milhões de crianças
Os dados revelam uma realidade preocupante: 46,5% das crianças com até 6 anos viviam em situação de pobreza em 2023, o que equivale a 9,4 milhões de crianças. Na Região Norte, essa proporção é ainda maior, atingindo 53,3%. A pobreza extrema também apresenta índices ruins, alcançando 16,7% das crianças dessa faixa etária, ou seja, 3,3 milhões de crianças sem o mínimo necessário para uma vida digna.
A persistência da desnutrição infantil
A falta de acesso a uma alimentação adequada impacta diretamente o desenvolvimento infantil. Em 2023, 3,8% das crianças menores de 5 anos estavam desnutridas, com a Região Norte registrando o maior índice (4,7%). Além disso, quase 280 mil crianças dessa faixa etária estavam abaixo do peso ideal para a idade. A desnutrição também se reflete na alta taxa de crianças com altura abaixo do esperado para a idade: quase 859 mil crianças estavam nessa condição.
A merenda escolar é uma grande aliada para combater a fome, mas, em 2023, 879 escolas públicas não ofereciam alimentação aos alunos, prejudicando milhares de crianças que dependem desse suporte para uma nutrição adequada.
Outro dado alarmante diz respeito à mortalidade infantil por desnutrição proteico-calórica. Em 2023, 200 crianças com até 4 anos perderam a vida devido à falta de acesso a alimentos adequados, como leite, frutas, legumes, proteínas e carboidratos essenciais. As regiões Norte e Nordeste foram as mais afetadas.
Mortalidade infantil ainda preocupa
A mortalidade infantil segue como um grande desafio no Brasil. Em 2023, foram registradas 12,6 mortes para cada mil nascidos vivos, um dos índices mais altos desde 2015. Já a mortalidade na infância (até os 5 anos) alcançou 15 mortes por mil nascidos vivos, o maior índice dos últimos nove anos.
A desnutrição materna e a falta de acompanhamento pré-natal também impactam a saúde dos recém-nascidos. Em 2022 e 2023, 9,5% dos bebês nasceram com baixo peso, uma condição que aumenta os riscos de complicações neonatais e mortalidade.
Trabalho infantil ainda impacta milhares de crianças e adolescentes
O trabalho infantil segue sendo uma realidade muito presente. Em 2023, 1,6 milhão de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos estavam em situação de trabalho infantil.
No primeiro semestre de 2024, a Fundação Abrinq analisou dados da Pnad Contínua e constatou que 2 milhões de adolescentes de 14 a 17 anos estavam na força de trabalho – ou seja, trabalhando ou buscando emprego, sendo que 1,1 milhão realizavam atividades classificadas como trabalho infantil. O estudo também destaca que mais de 500 mil adolescentes exerciam atividades perigosas, comprometendo sua segurança e desenvolvimento.
Educação: avanços e desafios
A educação infantil registrou avanços, mas os desafios persistem: em 2023, 36,8% das crianças de até 3 anos frequentavam creches, um progresso, mas ainda abaixo da meta do Plano Nacional de Educação, que busca atingir 50% até 2030.
O ensino médio apresentou melhorias na taxa de conclusão, com um aumento de 5,4%, enquanto a taxa de abandono caiu 40,4%, um avanço significativo. No entanto, a infraestrutura das escolas ainda representa um obstáculo: mais de 33 mil creches não possuem parques infantis, 26 mil não têm banheiros adequados e milhares de unidades carecem de saneamento básico.
A importância de agir agora
Os dados apresentados na publicação evidenciam a urgência de ações coordenadas para garantir os direitos e o bem-estar das crianças e adolescentes no Brasil. Enfrentar a pobreza, a desnutrição, o trabalho infantil e as dificuldades no acesso à Educação exige o envolvimento do poder público, da sociedade civil e de cada cidadão comprometido com um futuro mais justo e digno para a infância e a adolescência.
Para acessar o levantamento completo e conhecer mais sobre a atuação da Fundação Abrinq, clique aqui.