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Conheça organizações que priorizam a saúde mental de crianças e adolescentes no Brasil

17/09/2021
Conheça organizações que priorizam a saúde mental de crianças e adolescentes no Brasil

A saúde mental é definida como um bem-estar no qual o indivíduo consegue ficar bem consigo mesmo e com os outros, de modo a responder positivamente as adversidades que surgem na vida. E é fundamental promovê-la desde a infância, período em que as habilidades sociais e emocionais estão em desenvolvimento.

Uma em cada quatro crianças e adolescentes, com idades entre 5 e 17 anos, ouvidos em estudo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), apresentou ansiedade e depressão durante a pandemia com níveis clínicos - ou seja, com necessidade de intervenção de especialistas. Os dados foram apresentados em junho de 2021 à Comissão Externa de Enfrentamento à Covid-19 da Câmara dos Deputados, em Brasília. A pesquisa monitorou a saúde mental de sete mil crianças e adolescentes de todo o País desde junho do ano passado. O levantamento merece atenção neste Setembro Amarelo, mês de conscientização à saúde mental e prevenção ao suicídio.

Conheça a história de três organizações da sociedade civil, vencedoras do Prêmio Criança 2020 da Fundação Abrinq, que executam projetos com práticas que contribuem para promover o bem-estar e a saúde mental das crianças e dos adolescentes atendidos.

Atendimento psicológico às crianças e adolescentes em acolhimento

Fundado em 2005, o Instituto Fazendo História, situado em São Paulo - SP, tem como missão colaborar com o desenvolvimento de crianças e adolescentes em situação de acolhimento, a fim de fortalecê-los para que transformem as suas histórias. O princípio é que cada um deles tenha o direito a se desenvolver plenamente, em família e na comunidade.

O Projeto Com Tato, desenvolvido há 16 anos pelo Instituto, oferece atendimento psicoterapêutico, nas modalidades individual e familiar, às crianças e aos adolescentes que estão e/ou estiveram em acolhimento institucional.

No projeto, a parceria é firmada com o Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes (SAICA), mas o compromisso do terapeuta é com o paciente, o que significa que a psicoterapia pode prosseguir caso a criança ou o adolescente seja transferido de serviço, retorne para sua família ou seja adotado. O grande diferencial é que o paciente é atendido no consultório do profissional. A duração da psicoterapia não é preestabelecida, o terapeuta estará disponível pelo tempo que o paciente desejar e precisar.

De acordo com a coordenadora do Projeto ComTato, Ana Raquel Ribeiro, psicóloga e psicanalista, “o acolhimento é uma medida de proteção muito importante. Neste universo de crianças e adolescentes que necessitaram ser afastadas de suas famílias, que é uma situação bastante difícil, o atendimento psicológico é essencial. Nos primeiros 5 meses deste ano, foram 96 atendidos pelo programa. A faixa etária é de 3 a 17 anos e 11 meses, e são recebidos também os familiares adultos destes meninos e meninas em duas situações: quando a criança é muito pequena, então a consulta é realizada em conjunto com a mãe, e quando há um trabalho avançado para o retorno desta criança à família ou em processo de adoção”, conta a coordenadora do projeto.

Prevenção em saúde mental

O Projeto Prevenção em Saúde Mental para Crianças e Adolescentes em Grupos de Inclusão, realizado pela Organização Manaíra, atende crianças e adolescentes, de 6 a 17 anos, em situação de vulnerabilidade social. A iniciativa promove a redução do agravamento dos problemas de saúde mental, por meio de atendimentos em grupo e individual de uma equipe técnica, formada por psicólogos, fonoaudiólogo, fisioterapeuta e assistente social, e de atividades socioeducativas como artes, yoga, dança, meio ambiente e brincadeiras, que possibilitem aos beneficiados, a promoção para o seu desenvolvimento mental saudável.

A organização está localizada na região Nordeste do Brasil, na periferia do Grande Recife, em Ponte dos Carvalhos, distrito do Cabo de Santo Agostinho, em Pernambuco, com uma população de quase 180 mil habitantes, de acordo com o Censo 2010 do IBGE. A localidade é marcada pelo desenvolvimento industrial que a implantação do Porto de Suape, situado nos municípios de Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca, trouxe à comunidade.

De acordo com Maria de Fátima, psicóloga e uma das fundadoras da organização, a região não possui serviços públicos de atendimento especializado em prevenção em saúde mental. “A Manaíra atende aos encaminhamentos tanto da prefeitura, quanto do governo do estado, pois somos referência neste tipo de serviço. Porém, não possui vínculo com os governos e não recebe nenhuma verba para se manter”.

“Hoje, atendemos 297 crianças e adolescentes. A entrada da criança e do adolescente no projeto acontece por meio de um encaminhamento da rede socioassistencial local e por demanda espontânea. Ele [o adolescente e/ou criança] é recebido pela equipe social (psicólogo e assistente social) que realiza uma conversa individual, para iniciar a elaboração do seu plano terapêutico. A família também é acolhida neste primeiro momento, através de uma escuta qualificada”, explica Maria de Fatima.

Maria de Fátima se emociona quando fala o que representa para ela estar à frente do projeto desde a sua criação há 23 anos. “Eu vim dessa comunidade. Quando criamos o Manaíra, refletimos sobre o seguinte: não podemos querer uma mudança de cima para baixo. A mudança vem do próprio indivíduo, vem de baixo. Se ele quer mudar, ele consegue. Não adianta esperar algo grande, tem que começar com algo pequeno. É a boa vontade que vai fazendo esta mudança. Não é só reclamar que o governo não faz, que a prefeitura não faz. Nós, enquanto pequenos, podemos fazer a nossa parte. É através de pequenas ações que conseguimos transformar a realidade em que vivemos. A verdadeira mudança começa na cabeça e no coração de cada um”.

Projeto Quixote: há 25 anos com um olhar para a saúde mental

A Associação de Apoio ao Projeto Quixote, localizada em São Paulo – SP, atende cerca de 300 crianças e adolescentes, entre 6 e 17 anos, em situação de vulnerabilidade social. Com atuação em três frentes trabalhadas de maneira transversal: clínica, pedagógica e social, a organização tem como objetivo promover a saúde mental na infância e adolescência.

Para isso, divide o trabalho diário entre assistência e formações. No âmbito da assistência, o Projeto Quixote beneficia as crianças e os adolescentes por meio de atendimentos individuais e em grupo, consultas com psiquiatras, médicos e enfermeiros e atividades socioeducativas como oficinas de música, dança, artes, entre outras. Já as formações são voltadas para a capacitação de educadores e profissionais da área da Saúde, com cursos e programas de estágio para alunos de Psicologia, Serviço Social e até residentes de Medicina.

“O Projeto Quixote está completando 25 anos este ano. Ele nasceu com a missão de atender crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, sempre com esse olhar para a saúde mental. Além do olhar clínico, queríamos integrar o viés pedagógico e social para ter uma atuação tridimensional”, explica Graziela Bedoian, coordenadora geral da Associação de Apoio ao Projeto Quixote.

Uma característica que gera destaque para a organização é o fato de não estabelecer pré-requisitos para a criança ou o adolescente participar do projeto. Não é necessário estar acompanhado de um responsável, possuir documentos em mãos ou agendar as visitas. Basta comparecer na instituição que ele será acolhido. A Associação de Apoio ao Projeto Quixote segue firme com o seu propósito de proporcionar a oportunidade de um futuro melhor e com mais saúde mental para inúmeras crianças e adolescentes.

“Nós apostamos nas mudanças, nas transformações, e para isso você tem que aceitar a pessoa como ela chega. Nós não olhamos a criança pelos problemas, doença ou pelo o que fez de errado, nós olhamos pelo que ela tem de potência, pelo que fez de melhor e isso faz com que ela brilhe. Nós apostamos na criança e oferecemos um espaço para ela se firmar como pessoa, com esperança, futuro, um lugar onde ela possa errar e acertar”, completa Graziela.

Prêmio Criança – reconhecendo iniciativas inovadoras em saúde mental

Criado em 1989, o Prêmio Criança é uma das ações mais antigas da Fundação Abrinq. Foi idealizado para identificar e reconhecer iniciativas de empresas e organizações da sociedade civil voltadas a ações que contribuam para assegurar os direitos das crianças e dos adolescentes. Realizada a cada dois anos, a premiação já reconheceu 86 iniciativas em diversas cidades do Brasil.

A cada edição o foco da premiação se volta para as ações que são mais necessárias diante do contexto que se apresenta. Em 2020, o Prêmio Criança, em sua 23ª edição, reconheceu projetos desenvolvidos exclusivamente por organizações da sociedade civil, voltadas à promoção da saúde mental das crianças e dos adolescentes e, pela primeira vez, proporcionou, com o apoio da Fundação José Luiz Egydio Setúbal (JLES), um reconhecimento financeiro aos projetos vencedores.

Conheça a história do Prêmio Criança. Clique aqui.

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