Proporcionar uma alimentação saudável para crianças e adolescentes é um investimento valioso em seu desenvolvimento físico, mental e emocional. Uma dieta equilibrada não apenas promove um crescimento adequado, mas também fortalece o sistema imunológico, melhora o desempenho escolar e reduz o risco de desenvolvimento de doenças crônicas no futuro.
Ainda assim, segundo dados públicos compilados pela Fundação Abrinq na sua mais recente publicação, o Cenário da Infância e Adolescência 2024, a alimentação saudável no Brasil não acontece da forma como deveria. Em 2022, por exemplo, cerca de 900 mil crianças com idades entre 0 e 10 anos estavam em situação de obesidade, ou seja, peso elevado para a idade.
Sabendo que as primeiras etapas da vida são cruciais para estabelecer hábitos alimentares que podem perdurar por toda a vida, a Fundação Abrinq conversou com a dra. Daniela Neri, nutricionista especializada em nutrição infantil e pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP). Confira abaixo cinco dicas dadas diretamente pela profissional para melhorar a alimentação de crianças e adolescentes:
1) Cozinhe em casa, dividindo todas as tarefas envolvidas (da compra de alimentos e ingredientes até servir a comida à mesa) com as pessoas da casa. O hábito de cozinhar em casa está relacionado a um menor consumo de ultraprocessados por parte das crianças e dos adolescentes. Envolver a criança na preparação dos alimentos também é superimportante. Quanto mais ela se envolve com o preparo da comida, mais ela experimenta e mais se sente apta a provar novos alimentos. Com o planejamento das refeições, preparando maiores quantidades para garantir outras, a logística da casa fica mais simples e a alimentação saudável garantida.
2) A escolha dos alimentos deve ser feita de maneira informada. Precisamos saber a origem do alimento que vamos comer, diferenciar o que é comida de verdade, se foi preparado por mãos humanas e ler a lista de ingredientes antes de comprar alimentos embalados. Não se permita educar pela publicidade dos alimentos ou pelas mídias sociais.
3) Os pais e cuidadores devem servir de modelos para uma alimentação saudável. Desde o primeiro ano de vida, as crianças observam e aprendem ativamente dos arredores. Assim, é importante que toda a família consuma refeições saudáveis, valorizando o momento das refeições, estando presente, criando um ambiente saudável (livre de alimentos ultraprocessados e de distrações), comendo uma alimentação variada junto com a criança sempre que possível e aproveitando o momento para ensinar sobre nutrição e alimentação.
4) Atenção com o ambiente. O entorno precisa propiciar o desenvolvimento de hábitos saudáveis. É importante que as crianças tenham acesso a alimentos de verdade em todos os ambientes que frequentam, especialmente onde brincam e estudam. Se não há restrição à venda de produtos ultraprocessados na escola, vai ser muito mais difícil fazer escolhas saudáveis e os pais devem trabalhar junto com a escola neste sentido. Evite levar as crianças a supermercados ou restaurantes de comida rápida, locais com predomínio da comercialização de ultraprocessados. O Brasil tem um conjunto de espaços fora de casa, como padarias e restaurantes por quilo, que nos permitem de alguma forma reproduzir o que faríamos nas nossas casas e manter as refeições tradicionais. Quando não temos acesso a esses espaços e queremos manter o consumo de refeições saudáveis, precisamos necessariamente cozinhar em casa.
5) Acesse os Guias alimentares brasileiros. É importante seguir as recomendações sobre alimentação adequada e saudável do Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 Anos e do Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, que são baseadas nas evidências científicas mais atuais sobre alimentação e saúde.