Devido à ação dos seres humanos, as mudanças climáticas têm se intensificado nas últimas décadas. Uma criança de 10 anos de idade em 2024, por exemplo, sofrerá duas vezes mais com incêndios florestais e ciclones tropicais, três vezes mais com enchentes de rios, quatro vezes mais com quebras de safra e cinco vezes mais com secas ao longo de sua vida, caso a situação não mude, do que uma criança de 10 anos nascida em 1970.
Além de as crianças e os adolescentes serem afetados pelo resultado de ações que pouco ou nada contribuíram, o cenário é mais grave pois se trata de pessoas mais vulneráveis às mudanças do clima, sofrendo em maior grau com impactos na sua alimentação, saúde e educação do que adultos.
Quais são os efeitos na alimentação?
No Brasil, a fome já é um problema persistente, mesmo quando não se contabiliza a influência das mudanças climáticas. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2024, 5,4 milhões de crianças conviviam com insegurança alimentar, e, no ano passado, 3,7% das menores de 5 anos estavam na condição de desnutrição.
Com as mudanças climáticas, a situação se agrava, pois as novas condições ambientais tornam a produção de alimentos mais difícil e incerta, diminuindo seu volume. Dessa forma, há uma falta de alimentação adequada para as crianças e os adolescentes, o que resulta em fome, obesidade, desnutrição e outras doenças.
De que forma a saúde é impactada?
Os problemas das mudanças climáticas na saúde estão ligados principalmente com o fato de que crianças e adolescentes ainda estão em fase de desenvolvimento de seus corpos, incluindo o sistema imunológico. É por essa razão que um aumento de temperatura os afeta mais, já que ainda não conseguem regular a própria temperatura corporal tão bem quanto adultos, e que a poluição no ar pode causar impactos mais graves, afetando o pleno desenvolvimento do cérebro.
Outro ponto de atenção é o aumento de casos de doenças como dengue, malária, leishmaniose tegumentar americana e leishmaniose visceral, cujos vetores encontram condições mais favoráveis de proliferação com a variabilidade da temperatura, do acumulado de chuva e do nível de umidade relativa, consequência das mudanças climáticas.
Como a educação é prejudicada?
As mudanças climáticas causam eventos extremos que afetam diretamente a educação de crianças e adolescentes a partir de perda de materiais, abalos estruturais, dificuldades para a atuação dos educadores e agravos em saúde física e mental. Um exemplo são emergências, como as enchentes ocorridas no Rio Grande do Sul em 2024, em que, quando as escolas não são interditadas por danos causados pelo próprio desastre, têm as aulas paralisadas para servirem como abrigos e centros de apoio aos afetados.
As consequências desse cenário para as crianças e os adolescentes são uma redução de sua capacidade para aprender e um desinteresse pela educação, pois muitos passam a integrar tarefas sociais e econômicas em casa, por exemplo. Isso se agrava quando se observa um aumento nas chances de abandono e não retorno às aulas com o fechamento das escolas.
Mudanças climáticas e seus impactos na sobrevivência infantil
As informações expostas fazem parte da publicação Mudanças climáticas e seus impactos na sobrevivência infantil, lançada pela Fundação Abrinq em novembro de 2024. Além de mostrar com mais detalhes os impactos acima, o estudo contextualiza as mudanças climáticas no Brasil com dados atuais e faz um convite para uma mobilização urgente da sociedade.