Iniciada no mês de janeiro deste ano em todo o Brasil, a vacinação contra a COVID-19 ainda gera dúvidas em muitos pais ou responsáveis de crianças de 5 a 11 anos. A eficácia, os benefícios, intervalos de vacinação, contraindicações e os efeitos colaterais preocupam muitas famílias.
Para esclarecer estas e outras dúvidas sobre o assunto, a Fundação Abrinq conversou com o Renato Kfouri, médico e presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria.
- Qual a eficácia da vacina contra a COVID-19 em crianças de 5 a 11 anos?
Da mesma maneira que as vacinas se mostraram eficazes em idosos, adultos e adolescentes, os dados iniciais apresentados sobre a Coronavac e a Pfizer, mostraram eficácia semelhante, ou seja, indivíduos vacinados têm um risco de adoecimento da doença de cerca de 90 a 95% menor do que os não vacinados. Neste grupo de crianças de 5 a 11 anos, em especial, a eficácia dos estudos também foi confirmada.
- Porque vacinar as crianças de 5 a 11 anos é importante, mesmo que a COVID-19 seja mais leve nos pequenos?
Embora atingidas pela COVID-19, desproporcionalmente, em suas formas graves, essa doença não é isenta de risco para crianças. Porém, a COVID-19 em crianças apresenta um risco de hospitalização, sequelas, complicações e até de falecimento superior a praticamente todas as doenças do calendário infantil, como gripe, sarampo, meningite e pneumonia. Quando se compara o número de mortes causadas pela COVID-19 em crianças de 5 a 11 anos, o resultado é muito superior: a doença fez mais vítimas do que todas estas doenças juntas. É importante ressaltar que as vacinas não previvem somente a morte. Doenças como sarampo, gripe, febre amarela, caxumba, catapora, rubéola levam a uma mortalidade muito baixa, mas trazem sofrimento, transmissão, internação e sequelas. A vacina é para a promoção da saúde. Isto é o que precisa ser feito também com a vacina contra a COVID-19.
- A vacina contra a COVID-19 é segura para as crianças?
O mesmo rigor que tivemos no licenciamento das vacinas em idosos, adultos, gestantes e adolescentes, também ocorreu no caso das crianças de 5 a 11 anos. As vacinas passaram pelos rigorosos testes nas fases 1, 2 e 3. Atualmente, são mais de 20 milhões de doses aplicadas no mundo, nesta faixa etária, e com taxas de efeitos colaterais menores ainda do que observados em adolescentes acima de 12 anos. Ou seja, a vacina tem um perfil de segurança muito adequado e os riscos de efeitos colaterais são infinitamente inferiores, se comparados ao que representa esta doença. Os pais que estão hesitantes em vacinar os seus filhos contra a COVID-19 por conta dos efeitos adversos destas, deveriam estar mais preocupados com a doença. Ela, sim, pode levar a efeitos colaterais e a transtornos à saúde da criança muito mais graves e mais frequentes do que a vacina.
- Qual o risco de efeitos colaterais e o que se sabe sobre eles?
Um dos efeitos colaterais importantes que foram observados nas vacinas de RNA* mensageiro foi a chamada miocardite – inflamação cardíaca – efeito colateral raríssimo que acontece em mais ou menos 30 a 40 casos para cada 1 milhão de doses aplicadas e benigno. Até hoje, não há nenhuma morte relacionada a este efeito colateral. Estes casos foram acompanhados em crianças e adultos. O risco de se ter uma miocardite em decorrência da COVID-19 ou pelas suas complicações é muito maior do que pela vacina. Outros efeitos colaterais como alergias, tromboses com as outras vacinas de COVID-19, foram demonstrados, porém, extremamente raros. É importante destacar que embora possa acontecer o efeito colateral, o risco de se desenvolver uma complicação em razão de uma doença como esta é muito maior do que com a vacina.
- Há casos específicos de contraindicação para a vacina da COVID-19?
Não há contraindicação. Crianças alérgicas, com problemas de imunidade ou doenças crônicas, podem e devem tomar a vacina da COVID-19. Uma dica que vale para qualquer vacina: quando a criança está doente e apresenta um quadro febril, é preciso aguardar a melhora para que ela possa ser vacinada. Uma rara contraindicação é quando a criança desenvolve alguma alergia grave atribuída a dor, após a aplicação da vacina. Neste caso, não aplica a segunda dose ou termina o esquema vacinal com uma dose de outro fabricante. Porém, são reações alérgicas raríssimas, mas que podem acontecer com qualquer medicamento ou vacina, quando se aplica uma primeira dose: caso venha a ter uma reação alérgica grave, não se aplica a mesma vacina na segunda dose. Mas, em geral, não há nenhuma contraindicação.
- Qual o intervalo de aplicação das vacinas?
Em geral, são realizados os mesmos intervalos dos adultos: Coronavac - intervalo de quatro semanas entre a primeira e a segunda dose. Pfizer – intervalo de oito semanas entre a primeira e a segunda dose. Estes são os intervalos que se demonstraram mais seguros, em termos de apresentar menos reações, e mais eficazes, traduzindo em uma proteção final melhor.
- É necessária alguma autorização ou prescrição médica?
Não há a necessidade de autorização, de prescrição médica ou de atestado para receber a vacina. A presença da criança com um dos pais, já implica na concordância, não havendo nenhuma necessidade de atestado ou encaminhamento. As crianças desacompanhadas dos pais ou responsáveis devem levar a autorização do responsável. A vacina será aplicada como outra qualquer do calendário vacinal infantil.
- Os cuidados com a prevenção continuam?
Os cuidados e as medidas não-farmacológicas, como o distanciamento e o uso de máscara devem ser mantidos, a meu ver, enquanto estivermos em uma pandemia. A transmissão do vírus diminui com a vacina, mas não é eliminada pela vacinação, pois os indivíduos vacinados podem adquirir o vírus mesmo sem adoecerem e, ainda assim, serem transmissores. A recomendação do uso de máscara e do distanciamento é baseada nas taxas de transmissão que acontecem na comunidade.
- Há uma previsão para a vacinação das crianças menores de 5 anos contra a COVID-19?
Os estudos com as vacinas contra a COVID-19 para menores de 5 anos continuam avançando: a Coronavac/Butantan, dedicados a crianças a partir dos 3 anos; a Pfizer/Biontech, com dois estudos, o primeiro com foco em crianças de 2 a 5 anos, e outro em bebês a partir dos 6 meses de vida. Acredito que até o final do primeiro semestre deste ano devemos ter novidades. Ampliar a base de vacinados, ou seja, incluir crianças cada vez cada vez mais novas é fundamental, não só para protegê-las diretamente, mas também para colaborar com um grupo maior de vacinados e, desta forma, controlarmos melhor a pandemia. Quanto mais vacinados tivermos, menor será a chance de transmissão e mais protegidos estaremos todos.
Desde o início da pandemia, em 2020, a Fundação Abrinq produziu uma série de matérias sobre os impactos da COVID-19. Confira outras matérias como esta:
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(*) Trata-se de informação genética.