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“Ontem chorei no banho, pois não tínhamos mais comida”

03/08/2021
“Ontem chorei no banho, pois não tínhamos mais comida”

O Centro de Educação Popular da Comunidade Nossa Senhora Aparecida, desde a sua fundação em 1983, tem contribuído por meio de suas atividades para melhorar as condições de vida da população da Comunidade Santa Inês, localizada no distrito de Ermelino Matarazzo, zona leste de São Paulo – SP, por meio da realização de cursos de alfabetização de adultos, núcleos socioeducativos para crianças e adolescentes de 06 a 14 anos, curso semiprofissionalizante para adolescentes na faixa etária de 15 a 18 anos, além de grupos de geração de renda e emprego. Hoje, o Centro atende 294 crianças e adolescentes.

A instituição foi fundada por um grupo de jovens da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, da Igreja Católica. Naquela época, eles se juntaram para lutar pelas melhorias dentro da comunidade. Os problemas a serem solucionados eram muitos, como a falta de saneamento básico, água potável, coleta de lixo domiciliar e ausência de postos de saúde.

Os jovens foram mais além e iniciaram o curso de alfabetização de adultos na época, em que cada um ensinava o conteúdo que tinha mais afinidade. A inspiração vinha de Paulo Freire. Com o passar dos anos aqueles que eram alunos se tornaram educadores ou líderes comunitários.

Atualmente, a comunidade conta com 100% de rede de água e coleta de esgoto acabando com os poços e fossas, contudo, apesar das melhorias, ainda há muito a ser feito.

Bruno Santiago 30 anos, técnico especializado em Recursos Humanos e Políticas Públicas, trabalha há quatro anos com os adolescentes e as crianças do Centro Popular, realizando atividades socioeducativas, com o propósito de fazer a diferença na vida deles. “Eu fui um jovem integrante do Instituto Alana, de São Paulo – SP, me formei e retornei para trabalhar com eles. Conto a minha história de vida para estes meninos e meninas e serve de motivação para eles, que passam a acreditar mais em si mesmos e que podem transformar as suas realidades. Tenho prazer por desafios”.

Reflexos da pandemia

A pandemia causada pelo Coronavírus atingiu em cheio as famílias da comunidade. “Elas estão sofrendo muito com a questão do desemprego. Com a suspensão das aulas, as crianças não podiam frequentar o projeto e não faziam as refeições, ou não se alimentavam de forma adequada”, conta Sonia Fonseca, coordenadora geral há mais de 25 anos na instituição.

As crianças e os adolescentes se sentem acolhidos no Centro Popular. Além de realizarem atividades esportivas e educativas, eles interagem com outros colegas da mesma idade, trocam experiências e vivem a infância e a adolescência. “Com a pandemia, isso foi interrompido e eles sentiram falta. Aos poucos, estamos retornando, de uma forma bem cautelosa, com nossas atividades normais”, ressalta a coordenadora.

Para a entrega das cestas básicas, a organização agendou um horário para cada família comparecer à sede para a retirada da doação. “As famílias agradecem muito emocionadas por essa ajuda. Para algumas delas, é a única garantia de alimentação no mês para todos os integrantes da família. Ficamos muito felizes quando a Fundação Abrinq nos ajudou com as cestas básicas nestes meses de junho e julho, garantindo comida na mesa a quem não tem nada”, conta Sonia.

“Conseguimos atender quase todas as 300 famílias, graças a ajuda das empresas. As doações que chegaram da Fundação Abrinq foram distribuídas para 120 famílias. O restante das famílias recebeu as cestas básicas enviadas por outras companhias”, revela emocionada.

A organização foi uma das primeiras a fazer parte do Programa Nossas Crianças da Fundação Abrinq, na década de 90 e, atualmente, compõe a Rede Nossas Crianças. “Logo quando abriram as inscrições para fazer parte do programa da Fundação Abrinq, nos inscrevemos. Foi o que fez a diferença na nossa estruturação enquanto instituição e nos ajudou muito a elaborarmos nossos projetos e a captar recursos”, afirma Sonia.

Cesta básica: garantia de alimentação no mês

Na fila da entrega da cesta básica, Rodrigo da Silva, 33 anos, fala sobre a importância do Centro Popular. “Aprendi noções de marcenaria e de cidadania e a como me comportar no ambiente de trabalho. Aqui se aprendem lições que levamos para a vida toda”.

Ele conta também sobre as dificuldades enfrentadas pela população do bairro. “A comunidade tem muitas famílias que estão em situação difícil e que precisam de ajuda. Além disso, o bairro carece de recursos básicos para adolescentes e crianças. O jovem precisa de incentivo e apoio para despertar para a vida e conseguir crescer”.

Aguardando com a mãe na porta do Centro Popular, Rayane *, de 15 anos conta que o local oferece muitas oportunidades de se aprender coisas novas. “Eu gosto muito de estudar. Penso em fazer faculdade de Economia ou de Administração. Aqui, faço cursos de empreendedorismo, informática e gestão de negócios. Saio da escola e venho logo para cá”.

Neusa Pereira, 64 anos, mora com seus dois netos pequenos, sendo que um deles possui deficiência e necessita de cuidados especiais. ”Moro sozinha com eles. A cesta é muito importante, pois eu recebo somente a minha aposentadoria que é pouco para nós”.

Marli da Silva, tem dois filhos que frequentam o Centro Popular e, enquanto aguardava na fila para retirar a cesta, revelou que ajuda uma senhora do bairro que mora sozinha e que não possui nenhuma renda. “Levo produtos que sobram da minha cesta básica do mês para ela: uma lata de óleo, um fubá. Ela não tem família e recebe pouca ajuda. A filha que estava trabalhando, perdeu o emprego e elas não têm comida em casa. Se cada um ajudar um pouco, ela consegue comer”.

Daiana de Jesus tem 32 anos, é dona de casa e mora com as duas filhas. Atualmente, não pode trabalhar em razão de problemas de saúde, vive com a pensão do pai das crianças e sonha em poder oferecer uma vida melhor para elas. “Eu falo para a minha irmã que queria ter a saúde como a dela para buscar um trabalho, mas infelizmente a minha condição não permite. Por outro lado, ela pode trabalhar, mas não quer. Não é fácil viver assim, na minha situação, sobrevivendo do dinheiro de um homem que não gosta mais de mim e não se importa com as crianças. Tento levar a minha vida normal, pois não posso fazer da minha vida um problema. Preciso seguir em frente.

“Difícil dizer não, quando o meu filho pede um alimento e não tenho para oferecer”

Derci Ferreira dos Santos, separada e mãe de três filhos, trabalhava como cuidadora de idosos, mas no momento, está sem ocupação.

A pandemia tem dificultado para que se consiga um novo trabalho. Mas ela contará agora com a ajuda do filho, Vinícius. “Meu mais velho, de 19 anos, conseguiu um serviço há um mês e conseguirá ajudar em casa”.

Desde abril do ano passado, recebe a doação de cestas básicas. “É o que garante a alimentação dos meus filhos. Esse mês mesmo, tive que usar o dinheiro que estava separado de uma conta para fazer a feira. Os produtos da cesta já tinham acabado. Precisava comprar comida”.

A emoção toma conta de Derci quando fala sobre a importância da cesta para a família. “Ontem de manhã mesmo, chorei no banho, preocupada, pois não tínhamos mais nem dinheiro e nem comida. Foi quando recebi a ligação da Sônia pedindo para eu vir retirar a cesta aqui no Centro. Foi o que nos salvou”.

Derci revela que o pai de seus filhos, o ex-marido, a deixou há quatro anos e luta para manter a família sozinha. “Foi embora, não deu satisfação e fiquei com as crianças. Ele é viciado. Crio meus filhos só. Sabe, as crianças precisam de roupa, calçado e é difícil manter uma família desempregada. Mas, enquanto tiver forças, a minha missão é correr atrás, enquanto eu posso, para cuidar dos meus filhos. É difícil quando uma criança pede um alimento e não se tem para oferecer”.

Os reflexos da pandemia ainda são sentidos por milhares de famílias. Ajude quem mais precisa de apoio agora. Clique aqui para doar uma cesta básica.

 

* Nome fictício para preservar a adolescente.

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