No mês em que a Semana de Arte Moderna – também conhecida como Semana de 22 - celebrou o seu centenário, a Fundação Abrinq trabalhou a importância da arte com 2.364 crianças e adolescentes de 41 organizações da sociedade civil que fazem parte da Rede Nossas Crianças.
Os educadores de cada uma das instituições participaram de formações virtuais sobre a Semana de Arte Moderna e propuseram atividades aos alunos sobre os artistas modernistas e suas principais obras, associadas à realidade em que vivem.
O principal objetivo das formações foi contextualizar, revisitar o movimento modernista e refletir de forma crítica sobre os impactos da ruptura que ainda impacta na atualidade, promovendo o diálogo e a construção de práticas, vivências e releituras inspiradoras para multiplicá-las às crianças e adolescentes atendidos pelas organizações.
“As organizações tiveram uma participação ativa encaminhando representantes com grande interesse na abordagem do Modernismo em suas práticas e, posteriormente, na realização de atividades e vivências significativas, trazendo a identidade e o repertório pessoal de cada organização dialogando com a Semana de 22”, conta Tamara Stuchi, musicista, gestora cultural e consultora do grupo de formação.
As orientações aconteceram em três etapas:
Formação virtual: a primeira etapa teve a duração média de duas horas e meia, contemplando um panorama geral da Semana de 22, ministrada pelos formadores Tamara Stuchi, Marina Santos, Ella Ribeiro e Alah Cardoso;
Planejamento: nesta segunda etapa, ocorreu o envio das práticas educativas de cada organização social que contemplou as diversas linguagens artísticas, próprias para as crianças e os adolescentes, destacando o repertório da Semana de 22, os artistas e suas principais obras;
Orientação: na terceira etapa ocorreram as devolutivas às organizações dos planejamentos, com apontamentos e orientações específicas, além da realização de um encontro virtual para esclarecimentos com relação às práticas desenvolvidas por cada instituição.
As crianças e os adolescentes surpreenderam com trabalhos de diversas manifestações artísticas, como: desenho, pintura, escultura, música, teatro e expressão corporal.
A Fundação Abrinq apresenta a primeira parte da apresentação das atividades realizadas por algumas das organizações participantes das formações:
Poesia e arte em feltro no sertão da Paraíba
A obra Abaporu, de Tarsila do Amaral, foi a inspiração para 80 meninos e meninas atendidos pela Associação Cultural Pisada do Sertão, localizada na pequena cidade de Poço José de Moura, com pouco menos de 5 mil habitantes e que fica a 500 quilômetros da capital paraibana, João Pessoa.
As crianças trabalharam em dois grupos, de acordo com a faixa etária: de 8 a 10 anos, na produção de poesias e, de 11 a 14, criaram produções artísticas em feltro.
Segundo o professor de música Antônio de Agostinho, responsável pela turma, as criações foram individuais a partir da visão que cada criança traz consigo. “Cada um colocou a sua percepção e a sua interpretação na construção do poema, com base na realidade em que vive. As crianças gostaram e se identificaram muito”.
A educadora de arte, Carla Raeske trabalhou a obra de Tarsila com os adolescentes utilizando a técnica do feltro que, segundo ela, é muito semelhante ao veludo. Foram criadas duas obras: A evolução e A mudança. “Eles desenharam a figura no quadro. Em seguida, recortam o feltro e o colam na imagem desenhada. Tudo aos poucos, em pedaços, de acordo com o que foi retratado. Todos puderam participar. A atividade mostrou a importância do direito de se expressar, de fazer o que se gosta e ter concentração”.
A arte indígena de Victor Becheret
As crianças e os adolescentes da Associação de Educação Complementar Puro Amor, localizada em Blumenau – SC, se inspiraram na arte indígena do artista ítalo-brasileiro Victor Brecheret e na importância da cultura dos primeiros habitantes do País.
Foram utilizadas várias linguagens artísticas de acordo com a faixa etária. Os pequenos, de 6 e 7 anos, utilizaram a massa de modelar em desenhos relativos ao tema. As crianças de 8 a 10 trabalharam com esculturas de argila e desenhos com carvão vegetal. Já os adolescentes, de 11 a 15 anos, se expressaram por meio do nanquim ou canetas hidrográficas de pontas finas.
O educador social, Renan Amarante, que também possui formação em Artes Cênicas conta que 90 crianças e adolescentes participaram destas atividades e que estão adorando. “Tinham muita curiosidade sobre a cultura indígena. Fotografaram um livro antigo que trouxe, com figuras de peças artísticas indígenas, máscaras, e eles criaram algo a partir da percepção deles. Eles se entregaram nas atividades que realizaram”.
Grafitando a história
Localizada no município de Cambé, com 20 mil habitantes, ao sul do estado do Paraná, a Associação Refúgio, utilizou a linguagem do grafite para retratar a percepção do cotidiano das crianças e dos adolescentes atendidos, a partir da realidade em que vivem e de temas importantes, como a igualdade racial.
“Trouxemos este tema da igualdade racial para que eles pudessem refletir sobre o assunto, que é importante e atual”, conta Marcio de Carvalho, o fundador da instituição.
A atividade foi realizada em dois espaços: nas paredes do terceiro andar onde são realizadas as oficinas de jiu-jitsu, ates circenses e percussão.
Na primeira parede, as crianças e os adolescentes grafitaram a imagem de Jesus Cristo negro, a partir do desenho do artista Eduardo Ruglio e previamente aplicado à parede.
No segundo espaço, inspirada no quadro “A Negra”, de Tarsila do Amaral, tomou forma uma nova obra de arte. “Criamos uma mulher negra empoderada, embranquecida, que passou por intervenção de cirurgias plásticas e alisamento do cabelo. Participaram desta atividade 20 crianças, de 10 a 15 anos”, explica Marcio.
“A escolha destes espaços tem como objetivo dar visibilidade e protagonismo aos adolescentes na elaboração da arte e destaque à importância da ocupação do local com a arte”, relata o fundador da organização.
Artes visuais em solo pernambucano
O município de Glória do Goitá está situado na região da Zona da Mata, estado de Pernambuco, distante a 63 quilômetros da capital, Recife. A organização Giral Desenvolvimento Humano e Local está localizada nesse bairro e atende 210 crianças e adolescentes da faixa etária de 10 a 16 anos.
O educador de História e artes, Wemison Araújo, conta que trabalham as atividades da Semana de Arte moderna com os que já têm uma vivência com artes para facilitar a compreensão. “Estamos vivenciando a Semana de 22 e começamos a trabalhar o desenvolvimento crítico neles, a leitura das obras do modo artístico, entendendo e contextualizando com a realidade em que vivem. Eles conheceram as obras de Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Di Cavalcanti”.
As crianças e os adolescentes fizeram pinturas e desenhos em papel A4, inspirados nas produções artísticas destes três artistas. Cada um escolheu uma obra diferente e realizou uma releitura dela, a partir de sua percepção. Os trabalhos serão expostos aos familiares e demais alunos da organização.
Wemison relata que houve uma identificação dos alunos com o movimento modernista. “Eles se sentiram acolhidos pelo movimento modernista. Por exemplo: quando apresentamos a obra “Os Operários”, de Tarsila do Amaral, trouxeram logo para as suas realidades, pensaram em como poderiam atualizar a obra para os dias de hoje, quem seriam as pessoas, os profissionais e que material utilizariam. Isso é muito importante.”
Ao longo do mês de fevereiro, em que se comemora o centenário da Semana de Arte Moderna, a Fundação Abrinq produziu uma série de matérias sobre o tema e mostrou a importância da arte paras as crianças e os adolescentes.
Confira o que já foi publicado:
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