De acordo com estimativas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2020, há mais de 43 milhões de crianças, entre 0 e 12 anos de idade, no Brasil. O que corresponde a aproximadamente 20% de toda a população.
A infância é um período marcado por descobertas, desenvolvimento físico, cognitivo e social, e por aspectos fundamentais para todas as pessoas. É nela que começam a decifrar o mundo, imaginar o futuro e criar valores éticos e morais.
Com tantos adjetivos positivos, ser criança, para muitos, é vivenciar uma fase de inquietações, questionamentos, liberdade e muita diversão. Para compreender o que é a infância a partir das experiências pessoais de cada pessoa, a Fundação Abrinq conversou com seus próprios colaboradores, que compartilharam suas histórias e trajetórias até atuarem em defesa da infância no Brasil.
Amor pela Educação
Para Glaucia Carvalho, técnica do Programa Creche para Todas as Crianças, da Fundação Abrinq, a infância é um período em que tudo é possível, até os desejos mais fictícios: “É a melhor parte da vida. Tudo o que imaginamos cria vida, cor e torna-se palpável. Criança transforma um pote de álcool em gel em super-herói ou foguete. A fase da infância é a parte da vida que mais temos liberdade para nos expressarmos e criarmos coisas”, relata.
Seguindo a sua lógica, de que todas as coisas são possíveis, Glaucia seguiu o seu maior sonho de quando era criança.
“Eu tinha muita vontade de ser professora. Eu era a criança que ficava mais próxima das professoras na sala, a CDF. As professoras me encontravam no fim do ano, quando todo mundo já estava de férias, ligavam para a minha mãe para eu ir na escola buscar livros. Eu tenho essa memória muito forte das professoras serem muito próximas”, conta.
Chegou a iniciar a graduação em Pedagogia, mas sem trabalhar na área, trancou o curso e começou a estudar contabilidade, pois estava mais relacionada ao seu trabalho. No entanto, sem esquecer o seu sonho de criança, assim que terminou o curso técnico, Glaucia decidiu retomar os estudos e se formar como pedagoga, superando todos os obstáculos que surgiram em seu caminho.
“Eu sempre pensei que o meu trabalho faz mais sentido para aqueles que precisam dele e vir para a Fundação Abrinq fez total sentido para mim”, comenta.
Ao se lembrar de toda sua trajetória, Glaucia conta que o importante é não desistir dos seus objetivos, por mais difíceis que pareçam ser: “Eu venho de um bairro periférico de São Paulo - SP, de escola pública e normalmente as pessoas desacreditam muito do ensino público e das crianças que são frutos dessas organizações. Uma coisa que é muito marcante na minha trajetória é que alguns lugares nós não herdamos, nós precisamos ocupar. Às vezes saímos de andares diferentes das pessoas que tiveram uma educação melhor e com mais qualidade, enquanto elas saem do 3º andar para chegar ao 10º, nós saímos do subsolo. O trabalho é um pouco maior, é árduo e difícil, mas é possível. A educação pública é um caminho e dá frutos, eu sou um fruto disso”, completa.
Atualmente, Glaucia espera que todas as crianças “tenham liberdade, sejam ouvidas e, principalmente, consideradas” por todos.
Um período de descobertas
Sonhando em ter superpoderes como voar e sair por aí conhecendo o mundo, Raphael Marques, técnico do Programa Prefeito Amigo da Criança, da Fundação Abrinq, relembra a infância como um momento de muitas descobertas e questionamentos.
“Você está em uma perspectiva de descobrimento, de entender como de fato o mundo e o lugar que te envolve funcionam. Eu era muito curioso, era aquela criança do por que?, que os adultos chegavam uma hora e falavam que já tinham me respondido muitas coisas e voltariam a conversar depois”, confessa.
Ao ser questionado o ele queria ser quando criança, Raphael conta que seu maior sonho tinha um motivo bastante peculiar: “Eu morava no Rio de Janeiro - RJ e os meus pais eram bancários, quando eu ia visitá-los no trabalho gostava muito do ar condicionado. Obviamente no Rio eu morria de calor o tempo todo e para mim era incrível trabalhar em um lugar que tinha ar condicionado, então eu queria ser bancário também”, diz.
Mas seus objetivos foram mudando ao longo da infância e adolescência. Ambas as fases marcadas pela desigualdade, perceptível na própria família, fez com que Raphael passasse a ter a ambição de atuar para diminuir essas diferenças tão presentes no Brasil.
“Eu não compreendia o porquê eu tinha um certo entendimento sobre a vida e outros familiares, dentro da minha família extensa, tinham outras visões sobre as mesmas coisas. Na minha adolescência, tendo mais contato com a realidade das coisas, comecei a cogitar usar a minha vida para diminuir um pouco essas desigualdades. Para trabalhar em prol da garantia de direitos, da igualdade de oportunidades, para que todas as pessoas possam ter os acessos que eu tive ou até mais”, compartilha.
“As oportunidades não estão dadas para todos. Quem acredita que basta o mérito, basta trabalhar e correr atrás para chegar lá, está muito enganado sobre o que está acontecendo”, afirma.
Formado em Direito, atualmente Raphael se sente contente ao saber que o seu trabalho contribui para diminuir tantas injustiças vivenciadas especialmente na infância. Ao olhar para trás, relata ainda que daria um conselho para a sua versão criança.
“Eu falaria para ter mais calma, não esquecer que é um trabalho lento, que todo o crescimento depende da experiência de vida, mas muitas coisas nós não sabemos quando criança, a experiência trará isso com o tempo. E não espere que os seus superpoderes resolvam tudo do dia para a noite, no entanto, não deixe de ter ambições e sonhos, pois é isso que faz a roda girar”, finaliza.
Uma questão de tempo
Para Andressa Fonseca, que atua na área de Parcerias, da Fundação Abrinq, ser criança é sinônimo de muitas brincadeiras e muito aprendizado.
“Eu sou de Lorena – SP e morava em uma rua que não tinha saída. Tinham muitas crianças na vizinhança, então brincávamos muito, nós fechávamos a rua e brincávamos de vôlei, taco, todos os dias depois que fazíamos as nossas obrigações como ir para a escola, fazer o dever, nós brincávamos. Eu tive uma infância muito livre, tinham as regras que seguíamos em casa, mas tínhamos muito tempo para brincar”, comenta.
Quando não estava brincando na rua, Andressa estava em casa com a irmã mais velha brincando de boneca, supermercado, banco e tantas outras atividades que sua imaginação permitisse.
Apaixonada pelo mar, sempre sonhou em trabalhar com algo relacionado ao oceano quando crescesse: “Eu tinha o sonho de trabalhar com alguma coisa ligada ao mar, já pensei em ser surfista, mas nunca morei perto da praia, então nunca pratiquei. Como eu tinha esse amor, passei a sonhar em estudar Oceanografia, mas conforme fui crescendo acabei conhecendo outras coisas e não concretizei”, lembra.
Também sonhou em viajar e conhecer outros países, quando adulta fez seu sonho tornar-se realidade ao fazer um intercâmbio na Irlanda. Se imaginou morando na cidade grande e também concretizou esse desejo ao se mudar para São Paulo.
“Sempre tive dificuldade para me identificar com as profissões. Como uma desculpa para sair do interior, eu comecei um curso para ser comissária de voo em São Paulo, tirei a licença, mas nunca trabalhei com isso. Comecei a trabalhar na área administrativa [na qual se graduou], onde fiquei por seis anos. Resolvi que faria intercâmbio quando terminasse a faculdade e assim fiz”, menciona.
Durante o intercâmbio, Andressa realizou trabalhos voluntários para uma organização: levava alimentação e agasalhos para moradores de rua. Ali, sem esperar nada em troca, compreendeu que o seu maior desejo era trabalhar com propósito e poder ver valor em suas atividades.
“Quando eu voltei, conheci o setor de negócio de impacto, consegui uma oportunidade e vi que era o que eu realmente queria. É muito bom saber que o meu trabalho está beneficiando várias crianças. Quando eu era pequena, não imaginava que existiam outras crianças que não tinham acesso à educação, alimentação, por mais que minha família fosse simples e humilde, sempre tive acesso a tudo isso. Não deveriam existir crianças desassistidas e é muito bom saber que eu contribuo para amenizar essa situação”, comenta.
A trajetória de Andressa é mais um exemplo de que — apesar dos obstáculos — tudo é possível, basta acreditar nos seus sonhos, de criança ou que se transformaram ao longo do tempo, para que se tornem realidade.
“Eu desejo que todas as crianças sejam felizes e tenham o direito de ser criança. Que não precisem trabalhar, não tenham preocupação com o que vão comer, com a família, desejo que possam se desenvolver da melhor maneira possível”, finaliza.
Do esporte à defesa de direitos
“Ser criança é ser feliz, não ter preocupação, viver bem, ter alegria, brincar e não ter responsabilidades”, descreve Paulo Pires, líder financeiro e contábil da Fundação Abrinq.
De família humilde, Paulo conta que aproveitou a infância para brincar e colocar em prática a sua verdadeira paixão que é jogar bola: “Eu tive uma infância, economicamente falando, bem pobre, mas fui muito feliz, brinquei e aproveitei muito”, conta.
Quando criança, sonhou em ser médico, professor, motorista de ônibus e jogador profissional — sonho que surgiu ao acompanhar o seu pai, que realizava trabalhos com as crianças e os adolescentes aos finais de semana.
“Meu pai tinha um time de futebol, era a atuação dele com a juventude, então ele passava os finais de semana com as crianças, levava para as quadras e eu sempre estava envolvido. Eu o acompanhava e ele me levava para jogos de futebol. Eu fui atrás desse sonho, virei jogador, mas tive muitas desilusões, porque ser jogador não é só o que vemos na televisão”, explica.
Após jogar em mais de quatro clubes, seu sonho, infelizmente, não estava dando o retorno esperado. Foi quando Paulo, com o apoio do pai, decidiu trilhar um novo caminho. Sem esperar, conheceu a Fundação Abrinq, onde atua há mais de 25 anos e conta que se apaixonou pelo terceiro setor.
Hoje, pai do Gabriel, de 17 anos, e da Pietra, de 12 anos, ele conta que se inspira no pai em muitos aspectos positivos da criação dos filhos: “Eu me espelho no meu pai, não sou rígido como ele, mas eu sento, converso e brinco muito com os meus filhos”, relata.
Com orgulho, Paulo conta que Gabriel ingressará na faculdade: “Ele começará a faculdade agora, está focado e eu dou apoio. O meu sonho é que os meus filhos ganhem asas e tenham um alicerce forte, que eu e a mãe dele passamos. Que sejam felizes”, completa.
Para todas as crianças, Paulo deseja uma infância sem fome, com acesso aos direitos fundamentais e, acima de tudo, com muita felicidade e brilho nos olhos para continuarem fazendo o seu melhor: sonhar!
Neste mês das crianças, qual é o seu desejo para os pequenos que vivem no Brasil?
Conheça o trabalho da Fundação Abrinq e faça com que mais crianças tenham a oportunidade de sonhar com um futuro melhor. Clique aqui para fazer a diferença.