O teste do pezinho, normalmente realizado entre o segundo e o quinto dia após o nascimento do bebê, é fundamental para diagnosticar precocemente e direcionar o melhor tratamento para diversas doenças que podem causar graves complicações e até o óbito.
Feito por meio de uma coleta de sangue do calcanhar — local onde apresenta diversos vasos sanguíneos e praticamente não causa dor —, o teste é rápido, pouco invasivo e ajuda a identificar doenças raras e graves que podem ser crônicas, genéticas e incuráveis, antes mesmo do aparecimento dos sintomas. Atualmente o teste do pezinho é obrigatório no Brasil, no entanto, existe a versão básica, realizada gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por meio do Programa Nacional de Triagem Neonatal (PNTN), e a ampliada, realizada pela rede privada, que pode rastrear mais de 100 doenças em recém-nascidos.
O teste básico identifica até seis tipos de doenças, são elas:
• Anemia falciforme: alteração genética nas hemácias, na qual diminui a capacidade de transportar oxigênio para as células do corpo;
• Deficiência de biotinidase: pode causar convulsões, surdez, ataxia, hipotonia, dermatite, queda de cabelo e atraso no desenvolvimento;
• Fenilcetonúria: doença rara que afeta o sistema neurológico;
• Fibrose cística: afeta os aparelhos digestivo e respiratório, assim como as glândulas sudoríparas, responsáveis pela produção do suor;
• Hiperplasia adrenal congênita (HAC): afeta os hormônios como cortisol e aldosterona. Sem tratamento, pode levar o bebê a uma grave desidratação e evoluir para o óbito;
• Hipotireoidismo congênito: quando não tratada pode ocasionar retardo mental grave.
Tais doenças, se identificadas com antecedência, podem ser tratadas conforme a maneira mais adequada para cada caso e permitir, assim, a diminuição ou até mesmo a eliminação de possíveis sequelas, proporcionando uma melhor qualidade de vida para as crianças.
“A triagem neonatal é uma ação preventiva muito importante para a detecção de diversas doenças assintomáticas que podem afetar o desenvolvimento do bebê. Essas doenças se detectadas antecipadamente possibilitam o início do tratamento precoce mais específico e diminuem os riscos à saúde da criança, pois muitas delas se manifestam ao longo da infância”, explica Cintia Cunha, líder da área de Saúde da Fundação Abrinq.
Bebês prematuros também podem realizar o teste do pezinho?
Segundo o Manual Técnico de Triagem Neonatal Biológica, do Ministério da Saúde, todos os recém-nascidos devem passar pela triagem neonatal, no entanto, alguns podem ser mais predispostos a apresentar resultados falsos positivos ou falsos negativos, como no caso dos prematuros. Nestas condições, o teste do pezinho precisará ser repetido posteriormente, de acordo com a idade gestacional e o peso de cada bebê, para certificar que não houve nenhuma interferência no resultado.
Ampliação do teste do pezinho
No dia 26 de maio foi sancionado o Projeto de Lei (PL) nº 5043/2020, do Deputado Dagoberto Nogueira (PDT/MS), que altera o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Lei nº 8.069, de 1990, e amplia o número de doenças detectáveis no teste do pezinho realizado pelo SUS.
Com a alteração, o Governo Federal se compromete a destinar cerca de R$ 1 bilhão para a ampliação do exame, que passará a identificar até 50 doenças. A medida será implementada gradualmente e deverá entrar em vigor em até um ano.
Veja o que será acrescentado de acordo com cada fase de ampliação:
Primeira fase: incluirá doenças relacionadas ao excesso de fenilalanina, patologias relacionadas à hemoglobina e toxoplasmose congênita;
Segunda fase: níveis elevados de galactose no sangue, aminoacidopatias, distúrbio do ciclo de ureia e distúrbios de betaoxidação de ácidos graxos;
Terceira fase: doenças que afetam o funcionamento celular;
Quarta fase: problemas genéticos no sistema imunológico;
Quinta fase: será testada também a atrofia muscular espinhal.
O projeto ainda prevê a revisão periódica da lista de doenças identificadas pelo teste, com base em evidências científicas sobre os exames de rastreamento disponíveis e nas doenças com maior prevalência no país.
“A Fundação Abrinq defende a ampliação do teste do pezinho desde 2016, quando o PL 3077/2015, da Senadora Ana Amélia (PP/RS), que determina a atualização periódica do rol de anormalidades do metabolismo rastreadas na triagem neonatal, passou a tramitar na Câmara dos Deputados. Chegou a publicar seu posicionamento no Caderno Legislativo da Criança e do Adolescente de 2016 e desde então, passou a monitorar o avanço das propostas relacionadas ao tema”, destaca Victor Graça, gerente executivo da Fundação Abrinq.
Ampliação do teste e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
A ampliação do número de doenças detectadas pelo teste do pezinho impacta diretamente no cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável 3 e 10, uma vez que permite a igualdade no acesso a exames que possibilitam o diagnóstico precoce de doenças nos bebês e garante saúde e bem-estar para todos, contribuindo para o cumprimento da Agenda 2030.
Conheça mais sobre os ODS contemplados:
ODS 3 — Saúde e bem-estar
Visa assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.
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ODS 10 — Redução das desigualdades
Visa reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles.
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