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Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade: o que é e como identificar

02/04/2024
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade: o que é e como identificar

O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um tema que desperta cada vez mais atenção e preocupação entre pais, educadores e profissionais da Saúde. Isso porque o transtorno é reconhecido como um desafio na infância, afetando não apenas o desenvolvimento acadêmico, mas também a vida social e emocional das crianças.

Para entender mais sobre o assunto, a Fundação Abrinq conversou com a dra. Mariana Facchini Granato, médica pediatra, vice-presidente do Grupo de Trabalho de Desenvolvimento e Aprendizagem da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP) e cofundadora do Programa de Avaliação do Desenvolvimento, Comportamento e Aprendizagem (ADCA) da Clínica de Especialidades do Hospital Israelita Albert Einstein.

O que é o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

“O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um transtorno comportamental caracterizado por um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade e impulsividade mais frequente e grave do que aquele tipicamente observado em indivíduos em nível equivalente de desenvolvimento”, explica a dra. Mariana.

Segundo a pediatra, o transtorno pode ocasionar prejuízos nos âmbitos familiar, escolar e social, com impactos no aprendizado e no estado emocional dos portadores, sendo que seu diagnóstico é fundamentalmente clínico e baseado em critérios de sistemas classificatórios como o Manual de Diagnósticos e Estatísticas de Transtornos Mentais.

Como identificar uma criança com TDAH

“As manifestações clínicas se iniciam necessariamente na infância e os indivíduos podem apresentar fenótipos em que predominam sintomas de hiperatividade, sintomas de desatenção ou fenótipos combinados, sendo que alguns indivíduos podem ‘migrar’ de um fenótipo para outro ao longo da vida”, explica a médica.

Dessa forma, para identificar casos de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, a doutora ressalta que é preciso notar alguns sinais de desatenção na criança, como se esquecer de atividades ou tarefas e perder peças de roupas e materiais escolares com muita frequência, cometer muitos erros por desatenção em atividades e avaliações, evitar ou procrastinar atividades que exigem maior esforço mental, ou se distrair facilmente por estímulos externos.

Por outro lado, há também os sinais de hiperatividade e impulsividade apontados pela especialista, como agitação motora excessiva que dificulta que a criança se mantenha sentada, dificuldade em se envolver em uma atividade de lazer, como um jogo de tabuleiro ou de cartas, até o seu final, dar respostas precipitadas, antes mesmo que as perguntas tenham sido completadas, ter dificuldade de esperar sua vez, se intrometer em conversas alheias com frequência, ou reagir impulsivamente, com respostas verbais ou físicas exageradas quando se depara com uma frustração.

Os desafios enfrentados pelas crianças com TDAH

A dra. Mariana explica que as dificuldades atencionais muitas vezes levam a erros em tarefas e atividades, com consequente impacto no desempenho acadêmico, ao passo que a agitação motora e a impulsividade costumam dificultar a dinâmica social, tanto no ambiente domiciliar como na escola.

“Muitas vezes os pais começam a evitar sair com uma criança com TDAH para eventos sociais, por receio que ela se envolva em situações de risco (sair correndo, se perder, se machucar) ou por se sentirem envergonhados pela dificuldade de ‘controlar’ os comportamentos de seu filho”, relata a pediatra.

Além disso, ela conta que, na escola, a agitação motora e a impulsividade podem prejudicar a interação com outras crianças, já que muitas vezes o comportamento de uma muito agitada, que fica se “remexendo” e fazendo barulhos o tempo todo, pode começar a gerar incômodo nos colegas, por conturbar o ambiente da sala de aula e atrapalhar o aprendizado dos demais.

Como tratar o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

Em relação ao tratamento farmacológico, a pediatra relata que as medicações chamadas “estimulantes” são as drogas de escolha no tratamento do TDAH. Isso acontece porque mais de 80% dos portadores do transtorno têm boa resposta a esses medicamentos.

“Há duas categorias de estimulantes que compõe a primeira linha de tratamento do TDAH e cujos estudos indicam serem igualmente eficazes: metilfenidato e lisdexanfetamina. As drogas atuam inibindo a recaptura de dopamina e noradrenalina nas fendas sinápticas do circuito frontal córtico-striatal, promovendo regulação da atenção, da excitabilidade e da impulsividade” explica a médica. Segundo ela, os agentes farmacológicos proporcionam alívio importante dos sintomas levando também à melhora do rendimento escolar e da interação social.

Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade: o que é e como identificar


De acordo com a dra. Mariana, os efeitos colaterais mais frequentemente observados são diminuição do apetite, dores abdominais, cefaleia, irritabilidade e alterações do sono, sendo que efeitos adversos mais raros incluem perda de peso, tiques, retraimento social e mudanças na afetividade. “Em geral, com uma titulação adequada da dose da medicação é possível minimizar bastante os efeitos colaterais” relata.

É importante ressaltar que, para o tratamento farmacológico, é imprescindível a consulta com um médico especializado. Jamais inicie medicações sem a orientação profissional adequada.

O que pais podem fazer no dia a dia

“Um ponto importante do tratamento é a psicoeducação dos pais, educadores e da própria criança a fim de que compreendam que há dificuldades que fogem do alcance dela e que ela realmente precisa de estratégias que a ajudem a lidar com isso’, afirma a especialista.

Dessa forma, ela sugere algumas ações para os pais, como apoiar a criança com ferramentas que possam auxiliar a se organizar melhor (calendário, agenda, lista de tarefas, quadro de rotina), valorizar atividades nas quais ela tenha bom desempenho e buscar sempre o “reforço positivo” baseado no esforço da criança e não necessariamente apenas no resultado que atinge.

Além disso, promover uma boa qualidade/quantidade de sono e atividade física e considerar a possibilidade de realização de psicoterapia são pontos de destaque indicados pela dra. Mariana.

Qual é o papel dos educadores

Quando se trata dos educadores, a médica ressalta que não há uma “receita de bolo” para alunos com o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, pois as adaptações em sala de aula devem ser direcionadas em função das características de cada criança, contemplando suas fortalezas e dificuldades.

Ainda assim, algumas sugestões dadas pela pediatra são orientar a criança a se sentar nas primeiras fileiras e longe de portas e janelas, oferecer a possibilidade de realizar as provas em ambiente separado dos demais alunos, segmentar provas e tarefas longas em etapas e permitir pequenos intervalos durante aulas ou tarefas longas.

“Os professores podem auxiliar na checagem com antecipação se a criança está ciente da programação de tarefas e trabalhos a serem entregues, bem como podem tentar perceber os momentos em que ela está perdendo o foco na sala de aula e a ajudem a retomar a atenção. Já para crianças hiperativas, uma estratégia que os educadores podem utilizar é solicitar a ajuda dela nos momentos em que estiver agitada ou atrapalhando o andamento das atividades”, finaliza a dra. Mariana.

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