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Leitura: como a prática estimula o desenvolvimento das crianças e auxilia no estresse em meio à pandemia

23/07/2021
Leitura: como a prática estimula o desenvolvimento das crianças e auxilia no estresse em meio à pandemia

A leitura é uma prática que traz inúmeros benefícios aos leitores e quando estimulada desde a infância os impactos positivos podem ser muito maiores. Por meio dela, as crianças desenvolvem a concentração, memória, raciocínio e compreensão, estimulam a linguagem oral e ampliam a capacidade criativa. 

“Acessar o universo das histórias ativa a imaginação, amplia o repertório de mundo e cria condições favoráveis para as crianças lidarem com situações cotidianas sob diferentes perspectivas. É pela linguagem que elas se conectam com o mundo e é por meio das histórias que expressam as descobertas e os aprendizados, construindo a identidade e a memória. A literatura estimula muito o desenvolvimento dos pequenos”, explica Glaucia Piva, psicopedagoga, formadora de professores e docente nos cursos de pós-graduação da Universidade Anhembi Morumbi. 

Os benefícios se estendem para o fortalecimento de vínculos afetivos, quando o momento é compartilhado, e para as habilidades socioemocionais, uma vez que, por meio da leitura, as crianças começam a entender seus sentimentos e a tentar lidar com eles.

“Ás vezes ela tem uma angústia, leva com ela algo que não sabe sequer nomear, mas quando lê, ela consegue elaborar a dúvida, se identificar com o personagem e fazer conexões propiciadas pela própria trama”, relata Glaucia. 

O papel da família e da escola no estímulo da leitura 

Apesar de compor a rotina de aprendizagem da criança, estimular a leitura não é uma tarefa apenas escolar. Tanto a família quanto a escola possuem funções diferentes, porém, complementares nesta etapa. 

Enquanto a escola cumpre uma função mais intencional e pedagógica, a família promove uma leitura mais emocional. 

“O papel da escola é de garantir algumas competências. De fazer, por meio da leitura, a criança exercitar a curiosidade intelectual. A escola precisa procurar livros que instiguem nas crianças esse comportamento mais investigativo, a reflexão apurada. Ela precisa ter essa preocupação e o professor precisa ficar atento se o livro é premiado e tem uma boa referência”, afirma.

“Já a família precisa cuidar daquela leitura por vezes desprovida dessa intenção, mas que promove a aproximação entre os familiares. Ela pode escolher um livro não tão premiado, mas que cuida de uma necessidade imediata, um livro que passa exatamente aquilo que estão vivendo”, diz. 

No âmbito da família, não é necessário possuir um amplo repertório para incentivar o gosto pela leitura, para isso basta se interessar por procurar novas histórias ou valorizar as memórias de livros lidos durante a infância e adolescência.

“Às vezes os pais não têm um repertório tão vasto, mas possuem um repertório que é deles, da infância deles. Então se eles escolheram ler aquele livro é porque aquela história de alguma forma fez muito sentido para eles naquela ocasião. É natural que repliquem a leitura e a façam trazendo muita memória afetiva. Isso precisa ser valorizado. A família não precisa ter essa obrigação técnica na escolha dos livros dos filhos, mas precisa gostar da leitura e ter o desejo profundo de inserir os filhos nesse gosto”, menciona Glaucia. 

Ambas as frentes são fundamentais para promover o gosto pela leitura nas crianças e identificar maneiras de fazer isso na prática.  

O impacto da leitura em meio à pandemia 

Além dos inúmeros benefícios citados, a leitura também pode contribuir na redução da ansiedade e das dúvidas que podem surgir em meio à pandemia. Em um momento como este, é natural que as crianças passem a ter diversos questionamentos sobre a doença em si e temas relacionados como a vida e a morte. Muitos medos podem, inclusive, ser acentuados neste período. 

A leitura, nestes casos, pode auxiliar os pequenos a desenvolver habilidades socioemocionais como identificar esses medos e aprender a lidar com eles, de acordo com cada faixa etária. 

“A literatura cumpre esse papel de fazer o ser humano lidar com todas essas emoções que está sentindo. O momento que o adulto escolhe o livro e a trama normalmente está ligado a esse terror que ambos sentem e que são somatizados por conta da pandemia. Na hora que a família se senta para fazer a leitura, ela se organiza a partir daquele enredo e se reconstitui, visualiza um caminho um pouco mais corajoso e otimista em relação ao que está sentindo”, menciona Glaucia. 

Em meio à pandemia, a prática pode ser uma alternativa para a criança se desligar da realidade exterior e se conectar com o interior, tirar o foco do que está acontecendo no mundo e se concentrar no momento e nas suas emoções. 

“Quando o adulto está lendo para uma criança ele traz uma outra entonação, uma outra energia e entra naquele universo de contador. No momento em que ele está ali desprovido de tempo, sua única obrigação é contar a história, ele faz esse exercício de livrar um pouco a criança daquilo que está sentindo, que por vezes ela não sabe nomear”, esclarece. 

“A leitura nos leva para outras dimensões. O ser humano é multidimensional e a leitura compõe isso. Nós sentimos aquilo que lemos ou ouvimos, nos colocamos na história e nos projetamos nela”, completa. 

A partir de que idade a leitura pode ser estimulada? 

De acordo com a psicopedagoga Glaucia, o gosto pela leitura pode ser incentivado desde a gestação, com uma literatura voltada à maternidade/ paternidade. A partir do momento que os familiares começam a ler conteúdos voltados para aquele momento de vida, já mostram ao bebê a importância que ele tem para a família e, consequentemente, a importância da leitura.

“No momento da gestação, a mãe já se interessa e consome leituras ligadas à maternidade, ela já movimenta essa dinâmica. O bebê vai entendendo de alguma forma a importância de sentar, escolher algo que te dê prazer naquele momento, porque o corpo da mãe vai produzindo todas essas sensações durante a leitura”, explica.
Como incentivar a leitura de acordo com cada faixa etária: 

Do nascimento até os 3 anos: a família pode escolher livros que proporcionam experiências sensoriais como livros de banho e que estimulam a audição ou o tato. 

“Nesta fase, [são indicados] aqueles livros que têm uma pegada mais tátil ou auditiva, que você abre a casinha e o livrinho emite um som ou você passa a mão e sente que aquilo é mais áspero”, recomenda Glaucia.

Até os 6 anos: é possível optar por livros com temas mais místicos e que ajudem as crianças a lidarem com seus medos. 

“As crianças passam a se identificar com fadas e bruxas, a ter medo da morte, de perder um ente querido, no caso os familiares mais próximos. Cuidar desse terror infantil é uma providência importante, porque ajuda as crianças a visualizarem um caminho mais otimista em relação aos problemas do dia a dia”, explica. 

A partir dos 6 anos: podem ser inseridos livros de aventura e ficção científica.

“Elas começam a querer esse mundo mais fantasioso, do que é real ou irreal, essa luta entre o bem e o mal, essa literatura ligada aos dilemas até morais do que é bom ou ruim. Quando elas superam essa discussão, elas crescem, amadurecem e se constituem enquanto pessoas”, completa. 

Aprenda a criar uma rotina de leitura 

Para criar o gosto pela leitura nas crianças é importante fazê-las conhecer diferentes gêneros literários. Para isso, propor uma rotina de leitura pode ser o primeiro passo para ampliar o repertório delas. 

“Quando eu não sei o que gosto de ler, o que eu gosto de desvendar, qualquer leitura é válida e isso é hábito, não é gosto. Uma dica é montar com a criança uma rotina de leitura, que pode ser atualizada semanalmente”, afirma Glaucia. 

Sugestão de rotina criada com o apoio da psicopedagoga: 

Segunda-feira: dia de ler para aprender. Opte por conteúdos como Revista Recreio ou Ciência Hoje das Crianças (CHC);

Terça-feira: dia de ler para criar alguma coisa. Gêneros instrucionais são os mais recomendados. A família pode decidir criar algum brinquedo junto com a criança e estimular a leitura de guias e manuais; 

Quarta-feira: dia de ler para se divertir. Livros de piadas ou histórias em quadrinhos podem ser boas escolhas; 

Quinta-feira: dia de ler para se aventurar. Escolha contos de aventura ou histórias de ficção científica;

Sexta-feira: dia da criança contar uma história para alguém. 

“Com isso estamos trabalhando não só a leitura como os gêneros textuais. A famílias podem incluir um dia de indicação literária e perguntar para a criança o porquê ela gostou [da história], não se contentando com respostas clichês, porque foi realizado um trabalho de investir e instalar vocabulário, então é esperado que ele venha à tona agora”, finaliza Glaucia. 

Fundação Abrinq em prol da leitura 

A Fundação Abrinq, por meio dos seus programas voltados à Educação, fortalece a prática de educadores, por meio de formações e doações de acervos literários.

Em 2019, chegou a ser reconhecida pelo Prêmio Baobá, concedido a contadores de histórias, escritores, editoras, movimentos e fundações que, com suas práticas, desempenhos e ações, fortalecem, ampliam e difundem a arte narrativa no Brasil, valorizando a tradição oral, despertando o interesse pelo livro e o gosto pela leitura em crianças e adolescentes. 
 

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