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Como a mortalidade infantil pode ser evitada

15/03/2024
Como a mortalidade infantil pode ser evitada

A mortalidade infantil voltou a crescer. É o que o dizem os dados públicos compilados pela Fundação Abrinq e divulgados na mais recente edição do Cenário da Infância e Adolescência no Brasil. A publicação é atualizada anualmente pela organização e tem o objetivo de fornecer insumos para que a sociedade fique a par da realidade das crianças e dos adolescentes no país.

Acesse o Cenário da Infância e Adolescência no Brasil 2024 e saiba mais sobre o indicador da mortalidade infantil e outros!

A taxa de mortalidade infantil vinha diminuindo progressivamente desde o início da série histórica, em 1990, atingindo seu valor mais baixo, de 11,5 óbitos a cada mil nascidos vivos, em 2020. No entanto, após esse ano, o indicador passou a crescer e chegou à marca de 12,6 em 2022, o que acende um sinal de alerta na sociedade.

Como a mortalidade infantil pode ser evitada


Para saber mais sobre a mortalidade infantil e o que fazer para que a taxa volte a diminuir, a Fundação Abrinq conversou com a dra. Renata D. Waksman, médica pediatra e presidente da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP). Confira a entrevista abaixo:

O que é a mortalidade infantil?

Mortalidade Infantil refere-se ao número de óbitos de menores de um ano de idade, por mil nascidos vivos, em determinado espaço geográfico, no ano considerado. Se um bebê morrer antes dos 28 dias de idade, a morte também pode ser classificada como mortalidade neonatal.

Quais são as principais causas da mortalidade infantil hoje?

Dados da Fundação SEADE, de São Paulo, mostram que há maior risco de morte no primeiro ano de vida entre as crianças nascidas de mães com menos de 19 anos e com mais de 40 anos. Esse padrão pouco se alterou entre 2020 e 2022, apesar das variações nas idades extremas. Em 2021 houve aumento maior nas taxas para mães com mais de 45 anos, enquanto em 2022 esse indicador cresceu mais entre as mães jovens. Observa-se, ainda, redução na participação de nascimentos de mães jovens e aumento nas idades mais avançadas.

As principais causas da mortalidade infantil englobam algumas afecções originadas no período perinatal, malformações congênitas, doenças infecciosas e parasitárias, doenças do aparelho respiratório e causas externas, que, em conjunto, concentraram cerca de 91% dos óbitos em 2020, 2021 e 2022. Essas causas de morte, com exceção das anomalias congênitas, registraram aumento em seus níveis de mortalidade. Vale destacar que as causas perinatais representaram cerca da metade dos óbitos de menores de um ano.

Quais os principais fatores que ajudam na redução da mortalidade infantil?

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) em 2010, a mortalidade infantil poderia ser reduzida em mais de 70% com medidas preventivas como saneamento, educação, higiene, amamentação e intervenções simples, por exemplo, acesso a antibióticos, hidratação oral, uso de inseticidas e mosquiteiros.

Algumas soluções que salvam vidas e reduzem a mortalidade infantil são: pessoas qualificadas nos atendimentos pré-natal, parto e pós-natal, aleitamento materno imediato e exclusivo, acesso da gestante à nutrição e micronutrientes, conhecimento da família sobre sinais de alerta à saúde da criança, melhor acesso à água, saneamento e higiene, vacinas (imunizações), atendimento pelo pediatra de puericultura e fornecimento de tratamento adequado para doenças infantis.

Complementando a pergunta acima, como a disponibilidade aos cuidados de saúde materno-infantil impactam nesta redução?

As necessidades básicas têm que ser contempladas: água potável, boas condições sanitárias, nutrição adequada, educação e planejamento familiar. As intervenções de saúde destinadas a prevenir o parto prematuro e a melhorar os cuidados pré-natais também podem melhorar as taxas de mortalidade infantil.

O acesso aos cuidados pré-natais deve ser garantido e este deve ser adequado, além do apoio emocional à gestante na gravidez e puerpério, como planos de cuidados, ensino e aconselhamento, conforto e conversa.

Outros fatores incluem escolaridade materna, presença no domicílio de rede de esgoto ou água, número de consultas no pré-natal, local do nascimento e vacinação das gestantes e crianças.

Como a amamentação exclusiva também impacta na redução? E a vacinação?

Evidências comprovam que a amamentação exclusiva reduz as chances de doenças infantis. Explicações para esta associação estão relacionadas ao conteúdo do leite humano, incluindo os nutrientes necessários para atender às necessidades do bebê nos primeiros meses de vida.

O início da amamentação está significativamente associado à redução da probabilidade de mortes infantis. A amamentação exclusiva reduz as probabilidades de diarreia, infecção respiratória aguda e febre entre as crianças pequenas. Além disso, a amamentação também reduz a exposição a outros alimentos contaminados para garantir uma nutrição adequada ao bebê.

A amamentação exclusiva protege crianças menores de 6 meses de doenças semelhantes à coqueluche e pode ser potencializada quando associada à vacinação materna.

A vacinação no Brasil foi um dos principais motivos para a redução da mortalidade infantil no país. Em crianças menores de 5 anos, foi responsável pela acentuada queda nos casos e incidências das doenças imunopreveníveis, como as meningites por meningococo, difteria, tétano neonatal, entre outras.

A vacinação reduz a mortalidade, além de aumentar a qualidade e a expectativa de vida em, pelo menos, 30 anos, segundo a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), pois a vacina evita a doença e suas sequelas.

A redução da cobertura vacinal é muito preocupante, uma vez que causa avanço de doenças já equacionadas e o ressurgimento de doenças erradicadas, provocando danos ou morte, especialmente em crianças.

Quais as suas considerações finais sobre o assunto?

Todas as crianças têm direito a sobreviver e a crescer saudáveis, tal como estabelecido na Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança de 1989.

Na Agenda 2030, as Nações Unidas também definem especificamente a redução da mortalidade materna e infantil como um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Até 2030, com a ajuda do ODS 3 – Saúde e Bem-estar, menos recém-nascidos e crianças morrerão de causas de morte evitáveis ou de doenças tratáveis, de modo que a sua esperança de vida global continue a aumentar.


Para entender melhor os indicadores de mortalidade infantil, além de outros relacionados à realidade das crianças e dos adolescentes no país, não deixe de acessar o Cenário da Infância e Adolescência no Brasil 2024.

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